Sonho por vezes que não tive de abandonar o meu país. Que pude continuar no conforto de quem conhece de cor o meu coração, de quem sorri com empatia a cada um dos meus gestos, de quem sabe baralhar os ingredientes que eu gosto e voltar a dá-los, num prato fumegante e devorável. Sonho que o meu país não é um sítio onde o apelido vale mais do que o mérito, onde se dá mais valor a títulos atrás do nome ou a palavras caras do que a sentimentos verdadeiros, seja a julgar papiros, seja a julgar uma vida. Não existem lugares perfeitos, mas existem alguns com mais escuridão do que o fundo de um poço em dia de lua nova. Sonho que o meu país não se deixou invadir por hordes zombies, sem qualquer pedigree intelectual, mas com a sobranceria de achar que o têm. Imagino (ou será que sonho? Ou que invento?) que estou sentado no muro que guarda a praia, a olhar o horizonte, alheado de todo o barulho atrás de mim (se calhar “absorto em pensamentos” fica mais bonito, mais pomposo, mai...
uma palavra vale mais que mil imagens.