estávamos caídos num silêncio nu. perdidos entre o grau de um qualquer abafado que deslizou pelo tubo que serve para alimentar e o fumo intenso do tabaco perdido, antes fora mascado. nas paredes memórias antigas, esquissos de noites melhores, sinais de noites piores, palavras toscas riscadas toscamente, figuras de estilo que o eram sem o ser. pedimos mais um. e mais outro. e depois ainda mais outro. ficámos sentados no êxtase de quem vê o mundo à sua frente. vimos romanos, fenícios, vândalos, lábios, olhos, outros lábios, promessas, desastres, confidências e pecados. éramos ali, todas as noites (e algumas noites ate' chegaram a ser dias) confidentes de um mundo que ali passava. com um gesto pacífico mandávamos seguir. ouvíamos outro. e mais outro. a confissão da vida sem um castigo no retorno. sem obrigações de penitência. pelo preço de um sorriso. um dia um de nós decidiu levantar o seu corpo torpe e cambalear ate' à porta da rua. escalou os dois degraus, a porta de madeira ...
uma palavra vale mais que mil imagens.