as primeiras imagens que escorrem nas paredes mais longínquas da minha memória são de fumo de bifanas, cheiro a cerveja entornada pelo chão, mão dada ao meu pai e olhos sempre para cima, curiosos como os meus não sabem deixar de ser, na busca de entender o porquê de tantos homens grandes vestidos de encarnado se dirigirem ao mesmo sítio da cidade ao domingo à tarde.
depois, lembro-me de atravessar a ponte de pedra, de aguardar com paciência na fila para ser revistado, de atravessar as portas de ferro e de me avisarem para ter cuidado com o degrau. de subir intermináveis escadas até finalmente chegar ao cimo daquele amontoado de betão, cimento e ferro. trepar os últimos quatro/cinco degraus e sentir o meu pequeno coração a bater mais forte por saber que se estava a aproximar aquela visão magnífica de todo o estádio que só o terceiro anel permitia.
o contraste de um relvado verde com bancadas impregnadas de vermelho. as torres de iluminação imponentes, a toda a volta. os bancos de pedra corridos. os vendedores de assentos almofadados. os adeptos do mesmo clube em enormes discussões antes, durante e após a partida. depois era procurar um lugar para sentar e absorver todos os detalhes. como em qualquer paixão, o segredo da sua existência está nos detalhes.
está no tipo que levava a águia no braço enquanto dava a volta ao estádio, pedindo aplausos dos vários sectores. está nos vendedores de queijadas e gelados, que os apregoavam como se disso dependesse a sua vida. está nos suspiros colectivos da bola que vai ao poste. está na alegria incontida com que desconhecidos festejam o momento em que um objecto esférico atravessa a linha marcada com cal, como se desde sempre se conhecessem, como se soubessem, de modo cúmplice, quanto custa sofrer por tamanha paixão.
para mim, no caso concreto desta paixão, para me fazer feliz bastam estes detalhes. quem se apaixona sabe viver com os prós e os contras, com as vitórias e com as derrotas, com os picos e com os vales. se não existissem vales, aliás, não seria tão fácil dar valor aos picos.
como em tudo aquilo pelo qual se pode nutrir paixão, há também quem prefira a via do ódio. é um sentimento válido, como outro qualquer, e acredito que uma excelente metodologia para aliviar os restantes problemas da vida ou para combater complexos de pequenez individual ou colectiva. mas o ódio é isso, um tosco quadrado sensaborão, desenhado à volta do que é a paixão de outros.
ao ódio faltam os detalhes, faltam os pequenos prazeres, mesmo até o prazer do sofrimento, porque é um prazer que se quer catapultar para a alegria em vez de um poço sem fundo recheado de desamor.
quem tenha paixões diferentes da minha não tem em mim um inimigo. quando muito tem um competidor. mas um competidor que respeita. não que os rebaixa para estar acima, mas sim que apoia toda a luta que signifique estar acima por mérito próprio.
acima de tudo, no futebol, como na vida, as vitórias e as derrotas dependem mais de cada um de nós e do que investimos no que fazemos, do que de estar à espera do sucesso ou insucesso alheios.
depois, lembro-me de atravessar a ponte de pedra, de aguardar com paciência na fila para ser revistado, de atravessar as portas de ferro e de me avisarem para ter cuidado com o degrau. de subir intermináveis escadas até finalmente chegar ao cimo daquele amontoado de betão, cimento e ferro. trepar os últimos quatro/cinco degraus e sentir o meu pequeno coração a bater mais forte por saber que se estava a aproximar aquela visão magnífica de todo o estádio que só o terceiro anel permitia.
o contraste de um relvado verde com bancadas impregnadas de vermelho. as torres de iluminação imponentes, a toda a volta. os bancos de pedra corridos. os vendedores de assentos almofadados. os adeptos do mesmo clube em enormes discussões antes, durante e após a partida. depois era procurar um lugar para sentar e absorver todos os detalhes. como em qualquer paixão, o segredo da sua existência está nos detalhes.
está no tipo que levava a águia no braço enquanto dava a volta ao estádio, pedindo aplausos dos vários sectores. está nos vendedores de queijadas e gelados, que os apregoavam como se disso dependesse a sua vida. está nos suspiros colectivos da bola que vai ao poste. está na alegria incontida com que desconhecidos festejam o momento em que um objecto esférico atravessa a linha marcada com cal, como se desde sempre se conhecessem, como se soubessem, de modo cúmplice, quanto custa sofrer por tamanha paixão.
para mim, no caso concreto desta paixão, para me fazer feliz bastam estes detalhes. quem se apaixona sabe viver com os prós e os contras, com as vitórias e com as derrotas, com os picos e com os vales. se não existissem vales, aliás, não seria tão fácil dar valor aos picos.
como em tudo aquilo pelo qual se pode nutrir paixão, há também quem prefira a via do ódio. é um sentimento válido, como outro qualquer, e acredito que uma excelente metodologia para aliviar os restantes problemas da vida ou para combater complexos de pequenez individual ou colectiva. mas o ódio é isso, um tosco quadrado sensaborão, desenhado à volta do que é a paixão de outros.
ao ódio faltam os detalhes, faltam os pequenos prazeres, mesmo até o prazer do sofrimento, porque é um prazer que se quer catapultar para a alegria em vez de um poço sem fundo recheado de desamor.
quem tenha paixões diferentes da minha não tem em mim um inimigo. quando muito tem um competidor. mas um competidor que respeita. não que os rebaixa para estar acima, mas sim que apoia toda a luta que signifique estar acima por mérito próprio.
acima de tudo, no futebol, como na vida, as vitórias e as derrotas dependem mais de cada um de nós e do que investimos no que fazemos, do que de estar à espera do sucesso ou insucesso alheios.
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