nunca ficou bem claro onde é que tínhamos deixado a nave estacionada. eu achava que tinha sido atrás dos arbustos nas dunas, mas tu insistias que tinha sido mesmo ao pé do mar. bem diz o ditado que à noite todos os gatos são pardos e aparentemente todos os extraterrestres perdem o sentido de orientação.
quando entrámos no bar da praia ficou tudo a olhar para nós com um ar esquisito. achei aquilo digno de alguma falta de educação, mas, em defesa das pessoas que ali estavam, não deve ser habitual verem entrar porta dentro dois seres com cinco braços e dez pernas. já seres sem cérebro vêem com frequência, mas isso fica para outra conversa.
lembro-me do teu ar irritado por termos dado tanto nas vistas. eu ia jurar que tinha analisado ao pormenor a civilização humana e que bastava ter umas havaianas nos pés para passar despercebido na multidão. lembraste, e bem, como sempre, que umas havaianas talvez ajudassem, mas ter cinco pares calçados cheira a esturro.
ficou ainda um silêncio esquisito quando cada um de nós pediu um gin com molibdénio e duas pedras de zircónio. ficou tudo parado a olhar para nós e eu limitei-me a perguntar se era estranho naquele planeta as pessoas beberem gin. riram-se todos muitos e ainda hoje não entendo porquê.
finalmente descobrimos a nave. claro que não pegou à primeira, a lei de murphy estende-se para lá da ionosfera, mas foi com grande alívio que dali saímos e fomos passar o resto da lua-de-mel numa daquelas cabanas pitorescas num dos anéis de saturno.
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