a música não era nada de especial. o vocalista parecia ter não álcool no sangue mas sim sangue no álcool e a voz tremia-lhe mais do que uma casa construída em cima do anel de fogo.
a luz era morna, sobretudo comparada com a tua pele. falámos horas a fio de quão tudo é relativo, da temperatura das peles ao movimento dos girassóis atrás da estrela todo o dia. discutimos alegremente a falsidade do céu azul, pintado às escondidas para nos dar uma sensação de conforto. que não existe. que é inventado em becos cósmicos, como quem rouba um beijo enquanto um candeeiro se acende e apaga, incerto sobre a energia que lhe corre nas veias. ou nos fusíveis. uma das duas.
fiz um esforço hercúleo para me concentrar nas palavras, enquanto a minha atenção se prendia nos teus cabelos, os meus olhos se enrolavam no teu pescoço e o coração dava pulos capazes de ir à medalha de ouro nos jogos olímpicos.
as noites frias. as noites quentes. depende. tudo. depende tudo de tanta coisa. e no fundo depende de tão pouca.
a música não era nada de especial. mas isso nunca importou.
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