Está na moda escrever sobre o amor. O truque é pintar o dito de lugares comuns e adornar o produto final com duas ou três asneiras das pesadas para emanar pseudo-rebeldia. O conjunto de palavras é tão bonito e tem uma força tão positiva que o que está mesmo a pedir é para ser posto num rectângulo, acompanhado de uma imagem do pôr-do-sol/paisagem verdejante/gatinhos/silhueta de um ou dois corpos (riscar o que não interessa) e feito, está pronto a sair do forno para esse sufrágio universal que são as redes sociais.
Está na moda gostar dessa visão do amor. Que tenta copiar alguns traços dos mestres mas que os copia mal e porcamente, borra a tinta toda, mas encontra destinatários com a visão tão baça que nem dão por isso. Dantes havia o condão de ficar preso às letras do Shakespeare, do James, do Cummings e de tantos outros. Todos eles vieram por aí fora, ainda há bem pouco tempo dava para jogar à macaca com o Cortázar, mas está tudo a trocar a macaca por meia dúzia de macacos, que aprenderam que o amor em versão marketing vende mais que em versão nua e crua e que fazem de meio mundo parvo.
Está na moda ser positivo, acreditar muito que uma coisa vai acontecer porque se acredita muito nisso. Porque o "eu" está em primeiro lugar, porque "se eu não gostar de mim quem gostará" e tantas outras aldrabices que fingem explicar o mundo e os sentimentos que nunca ninguém entendeu e que não vai entender tão cedo.
O amor não está na moda porque o amor não é uma moda. O amor é visceral, é prazer e sofrimento, é uma tela rasgada, não é uma pintura certinha ou um jogo de unir pontos. E o amor não se aprende por terceiros, sobretudo os de qualidade duvidosa, vive-se, experimenta-se, sofre-se e acontece. Há mais amor no cheiro a terra molhada que em mil frases feitas vomitadas em jeito de culto religioso.
Comentários
para além disso olha que "se eu nao gostar de mim (e entao se for dramatico/a a mostra-lo...) tenho valor acrescentado!" Isso do matinal também nem sempre é como dizes.