parece que foi ontem, que os dedos abriam as páginas do atlas ao acaso e decidiam os adversários do próximo jogo, sim, desta vez pode ser um escaldante bahamas contra gronelândia, ficando tudo a jeito para essas partidas em que um só jogador fazia de vinte e dois e criava a complexa dinâmica de rematar à baliza e defender o remate ao mesmo tempo.
parece que foi ontem, que adormecer era complicado, o calor, que nem a brisa do rio acalmava, entrava pela alma, e para dissuadi-lo brincavam os pés pelo enrugado das paredes, ó deus, quem se lembraria de inventar paredes rugosas e achar que isso tinha tudo para correr bem.
parece que foi ontem, a vida era muito só isso, o intervalo entre campainhas, o duelo entre livros devorados e roupas suadas com tanto futebol de intervalo, as aventuras em autocarros apinhados de gente, os desafios de fazer uma chave de casa rodar, porque isso é tão difícil e pertence ao mundo dos grandes.
parece que foi ontem e de repente é hoje. de repente os atlas são contas de electricidade, as paredes rugosas são a burocracia quotidiana, as aventuras de intervalo são pára-arrancas e arranca-páras, que são mais párias que páras. são os dias a correr atrás dos dias, sem a mesma espuma que estava lá para trás, são uma imperial tirada sem pressão, um céu cinzento sem sequer ter nuvens, uma vontade interminável de que o hoje volte a ser ontem. quem sabe, amanhã.
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