pena que o netflix tenha uma escolha tão vasta mas não haja por lá um filme, série ou documentário que nos encaminhe para a essência da vida.
sim, há quem possa argumentar que está por lá a marie kondo a ensinar a arrumar gavetas como deve ser e mais uma série de gatos pingados a ensinar a descobrir uma casa ou um destino de férias de sonho, tudo por uma bagatela, basta oferecer de volta a dignidade.
no passado, os vendedores de sonhos andavam de terra em terra, paravam nas feiras, tinham pequenas garrafas cheias de elixir da eterna juventude, dentes de dragão, vesículas de gambozino, tudo e um par de botas para melhorar a vida. a alguém com inteligência acima da média disparava logo o alarme da charlatanice e os vendedores de ilusões eram corridos a pontapé ou encaminhados para fora dali por uma matilha de pouco amigáveis canídeos.
agora vender sonhos é chique e fácil. basta fazer upload de pratos com saturação acima da média, de imagens em espelho de pseudo-felicidade, de pernas em modo salsicha ou de salsicha em modo de pernas. todos comem as salsichas e embrenham-se na ideia de que o seu sonho é ter umas salsichas iguais àquelas, sejam bratwurst ou nobre com um bom filtro. perdeu-se o alarme, perdeu-se a matilha de cães, atiçar a matilha dá demasiado trabalho e afinal qual é o mal de barrar a pele com uma vesícula de gambozino ou de espetar um dente de dragão na testa?
o mal não é nenhum, mas viver um sonho, mergulhar numa ilusão, tem outro prazer quando aparece do nada, quando surge numa esquina de madrugada, quando cai de uma árvore num dia frio. comer o que nos servem é fácil, mas nem sempre o fácil é o bom. andar por aí, sorrir a desconhecidos, ver cães a escorregar no gelo. nada disto tem preço, nem sequer $14.99 por mês e vale mais que oitenta e três dentes de dragão crivados pelo corpo todo.
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