A escolha era simultaneamente fácil e difícil. Em frente uma rua iluminada pelos amarelentos candeeiros que pareciam tristes na noite, para a sua esquerda uma rua escura, mas que da sua penumbra irradiava a luz dos néons, anúncios de vida naquelas trevas do pecado.
Ao seu bom estilo, optou pela esquerda, parecia ser inclusive o caminho mais directo para o seu hotel. À medida que andava, Martha olhava os vários bares... nomes nórdicos maioritariamente, porque raio dar nomes de cidades tão elegantes e avançadas a estabelecimentos de qualidade duvidosa? A ausência de presença humana no local fê-la sentir-se desconfortável pela primeira vez. Se calhar devia ter optado por seguir a luz da iluminação e passear junto ao rio.
Mais à frente deparou-se com um quadro pitoresco. Para a sua esquerda, trepando a colina, uma pequena viela apresentava-se em toda a sua pequenez e silêncio. Imediatamente atraída, Martha não pensou muito tempo e abandonou por ali a rua suja que quase a fizera vomitar.
Pequenas luzinhas iluminavam este beco. Esperava que tivesse saída, senão seria uma escalada inglória. Das janelas nem um pio, das portas nem um ranger. Toda a Lisboa dormia por aqueles lados. Uma série de outros labirintos inundavam as laterais do seu caminho. Pensou, rindo para si própria, que esta cidade tinha bairros que mais pareciam formigueiros...
No segundo seguinte Martha não teve tempo de se rir. Vindo do nada, sentiu um vulto vestido de preto saltar do seu lado direito. Ainda tentou articular algum som, mas já não foi capaz. O único som que se ouviu na noite foi o gorgolejar da sua carótida, decepado que foi o seu pescoço. E o silêncio continuou na noite, e pela ruela abaixo correu um rio vermelho... em direcção ao outro...
(continua...)
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