Fiquei tão contente! Tinha os meus 15/16 anos, o telemóvel ainda era algo em fase experimental, e o que estava na moda eram os bips. Vi um concurso numa revista ao qual concorri prontamente: era para escrever uma frase sobre bips. Havia um como prémio. Como a pior das fashion-victims que sou, logo concorri, e passadas umas semanas recebo a agradável notícia de que era o vencedor do passatempo. A minha alegria foi temporária... Afinal o bip não servia para grande coisa. Permitiu-me estar no topo da moda, e receber regularmente linhas com notícias sobre o desporto ou o tempo, mas não me ajudou muito nem a ser melhor pessoa nem a coisa nenhuma. A moda do bip passou rápido, cilindrada pelo telemóvel (nos primeiros tempos quase literalmente, com o tamanho de tijolo que estes últimos tinham).
Nunca mais ouvi falar de bips.
Até agora. Voltei a ter um. E este não o pedi. Obrigam-me a usá-lo e é a minha companhia no hospital. Não me dá notícias, nem o tempo, nem o resultado do Benfica. Quando apita estridentemente às quatro da manhã e me acorda de rompante, lá vou eu de cabelo (o que me resta) despenteado e olhos sonolentos em riste para salvar uma vida. Na maior parte dos casos não há uma vida para salvar. É só alguém que de repente ficou com uma ligeiríssima dor de cabeça e o bip (faz de conta que é ele) lembrou-se de me chatear (não há aqui qualquer ressabiamento pela última noite, cof cof).
Os bips perseguem-me. Mas agora foram eles que me escolheram a mim. Será vingança?
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