a descolagem de um avião é um bonito hino à engenharia e ao engenho humano. sentimos o corpo colar-se à cadeira, os motores gritam alto como quem prepara a investida numa batalha, as rodas rodam mais rápido que elas próprias, as asas concentram-se com toda a força e o aparelho acelera pista fora. imagino-o sempre de ohos cerrados, concentrado, conquistador. finalmente as leis da física decidem que as correntes de ar que roçam as asas vão mudar a forma como se brinca a este jogo e geram o impulso que leva o avião a descolar. colam-se então as paredes do estômago, a inclinação do corredor da aeronave mostra que há um meio termo entre o horizontal e o vertical e aí vamos nós. gosto muito de descolar por esse mesmo motivo. é como uma composição musical triunfante. uma declaração de intenções ao universo e um cruzar de espadas com a atmosfera.
mas o que que eu gosto mesmo é de aterrar. porque na descida faço de conta que não há engenharia e engenho humano e imagino que sou tão somente um pássaro, que, planando, encontrou o seu destino e gentilmente vai descer na sua direcção. podia fazê-lo como águia que caça um rato depois de o marcar lá do alto. mas prefere, em vez disso, descer gentilmente e aprender a noção dos tamanhos. a delícia é ver que os quadrados indistintos acastanhados se tornam em verdes, castanhos, rios e estradas. gentilmente pontos brancos ganham a forma de armazéns e de casas. a pouco e pouco as formigas que acabaram de aparecer mostram que afinal são carros, movendo-se em todas as direcções. e é neste micro-cosmos que mergulhamos. deixamos lá em cima a visão de um mundo parado e sossegado para voltar a ter a convicção do corropio e da passagem do tempo. sei que estou de volta quando consigo distinguir figuras humanas. sorrio, na certeza de uma vez mais ter voado, desafiado as graves leis da gravidade, que nos mantêm de pés tão bem assentes na terra mas que ao mesmo tempo estariam prestes a contrariar uma aeronave que não se decida a carburar o caminho.
nisto as rodas tocam na pista. ouve-se o chiar do impacto. em breves segundos o nariz desce e a parte da frente poisa também, como se do gesto final de um bailado se tratasse. findos os amantes, voltam os motores. estridentes novamente, agora ao serviço da travagem. e eu gosto sempre de imaginar que estes motores são a ovação de pé da plateia a mais um vôo nos céus de uma espécie que afinal nem tem asas.
mas o que que eu gosto mesmo é de aterrar. porque na descida faço de conta que não há engenharia e engenho humano e imagino que sou tão somente um pássaro, que, planando, encontrou o seu destino e gentilmente vai descer na sua direcção. podia fazê-lo como águia que caça um rato depois de o marcar lá do alto. mas prefere, em vez disso, descer gentilmente e aprender a noção dos tamanhos. a delícia é ver que os quadrados indistintos acastanhados se tornam em verdes, castanhos, rios e estradas. gentilmente pontos brancos ganham a forma de armazéns e de casas. a pouco e pouco as formigas que acabaram de aparecer mostram que afinal são carros, movendo-se em todas as direcções. e é neste micro-cosmos que mergulhamos. deixamos lá em cima a visão de um mundo parado e sossegado para voltar a ter a convicção do corropio e da passagem do tempo. sei que estou de volta quando consigo distinguir figuras humanas. sorrio, na certeza de uma vez mais ter voado, desafiado as graves leis da gravidade, que nos mantêm de pés tão bem assentes na terra mas que ao mesmo tempo estariam prestes a contrariar uma aeronave que não se decida a carburar o caminho.
nisto as rodas tocam na pista. ouve-se o chiar do impacto. em breves segundos o nariz desce e a parte da frente poisa também, como se do gesto final de um bailado se tratasse. findos os amantes, voltam os motores. estridentes novamente, agora ao serviço da travagem. e eu gosto sempre de imaginar que estes motores são a ovação de pé da plateia a mais um vôo nos céus de uma espécie que afinal nem tem asas.
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