lembro-me bem que, por circunstâncias variadas da vida, aos dez anos tinha uma ideia clara (por mais estranho que possa parecer) do que queria ser e de onde queria estar aos vinte anos. com toda a dificuldade que uma previsão dessas implica, o engraçado é que aos vinte anos estava quase por completo nesse plano imaginado ou idealizado dez anos antes.
chegado aos vinte (assim até parece que só penso o que quero fazer da vida de dez em dez anos, eu sei) voltei a fazer o exercício de tentar perceber onde queria estar dez anos depois. desta vez acho que falhei redondamente e a vida encarregou-se de me ensinar que quanto mais se cresce, pessoal e profissionalmente, mais difícil se torna tentar domar o nosso destino e muito mais factores entram em jogo do que no conforto e linearidade da infância e da adolescência.
porque esses tempos são fundamentais na formação da personalidade, sem dúvida, e têm, como é amplamente descrito mundo fora, vários períodos de turbulência e de ultrapassagem desta ou daquela barreira. mas, na verdade, um jovem que cresça num ambiente normal, com o devido amor e carinho, num país desenvolvido, vive toda essa fase ainda numa redoma gigante, e muitos desses conflitos interiores não são mais do que necessidades de alguma turbulência para ajudar à combustão do ser.
chegar à conclusão de que estamos num ponto em que não achámos dez anos antes vir a estar não é obrigatoriamente mau, não me interpretem mal. é apenas mais um daqueles casos em que o destino (como se ele existisse) se encarrega de largar uma risada perante a nossa ingenuidade prévia de achar que a vida é como um jogo de computador, que temos vidas extra, que temos um controlador nas nossas mãos e que podemos fazer reset a qualquer momento. não é o caso. e por um lado ainda bem.
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