o som das frestas meio abertas nunca me impressionou grande coisa. cheirava a pôr-do-sol e às ondas dos teus cabelos, enquanto as outras ondas saíam da rádio e o maurice chevalier cantava sobre rouxinóis e o amor. depois continuava num tom mais lento a falar sobre o mesmo tema. os rouxinóis esvoaçavam pela luz ténue e ríamos de alegria ao lembrar o dia em que a televisão voou janela fora e o tempo entrou feito tornado janela dentro.
baptizámos o barco com a garrafa de veuve, sem acelerar o passo, a ver as nuvens esperar pacientemente. lembras-te como as nuvens se vão juntando a pouco e pouco, fingindo que são formigas num carreiro, meio confusas sobre a altura certa para atirar baldes de água cá para baixo?
já longe da costa, perto do nada, mas como quem vai a sair para o tudo, ficámos a ver chover e atirámos os remos na direcção da água. decidimos que o acaso ia decidir onde o barco ia parar, adorávamos fazer de conta que éramos uma gigante mensagem-numa-garrafa. que fazia sentido desafiar o tempo e esperar oitenta anos ali sentados de mãos dadas, a imaginar o ontem, a tropeçar no hoje e a rir sobre o amanhã.
parou de chover, mas não parámos de sorrir. vimos juntos nuvem a nuvem pegar no seu balde, pôr o chapéu de côco na cabeça e ir embora com um ar rezingão. é tão bom quando se aquece mais de dentro para fora do que de fora para dentro e há tão pouco quem.
Comentários
Bjo
Se um dia te cansares de "brincar" com corações em peitos abertos podes optar sempre por escrever e abrir peitos para chegar a corações.
Estás garantido. Parabéns, pá!! Abraço.