eu ainda sou do tempo (já começamos mal) em que a opinião era uma coisa difícil de difundir. para ter tempo de antena num jornal ou para ter um livro publicado era preciso ter qualidade à prova de bala. ou uma boa cunha. mas apesar de tudo, em geral, o critério "qualidade" tinha tendência a prevalecer.
num ápice veio esta maravilhosa democratização em que todos temos direito a blogs, podemos publicar livros de borla online e dão-nos colunas em jornais diários como quem oferece jornais de qualidade duvidosa no metro e nas filas de trânsito.
uma coisa que tinha tudo para ser boa, abrindo o mundo a mais opiniões e pontos de vista, tem sido, na minha modesta opinião, um semi-desastre. e o "semi" é só porque pelo meio do imenso ruído se descobrem pessoas e opiniões de muito valor, que nunca teriam atingido a ribalta na apertada meritocracia do passado. mas para encontrar essas trufas é preciso escavar em tanta terra vazia que chega a ser desesperante.
toda a gente se arroga o direito de ter opinião sobre tudo, o que é válido, mas crêem-se também no direito de que todos saibam aquilo que acham. vivem na ditadura dos likes e dos RTs e medem o seu ego em função do que acham que é a sua capacidade de propagar a meia dúzia de idiotices desinformadas que têm a expelir sobre todo e qualquer tema.
pior do que isso, têm por vezes sucesso nessa sua difusão. e com o sucesso do volume de difusão acham que vem a confirmação da qualidade do produto, neste mundo que chutou para canto a qualidade e que adora dormir em conchinha com a quantidade.
este inverno por aqui tem sido muito longo, dêem-me um desconto. e enquanto me dão o desconto pensem duas vezes antes de abrir a boca sobre certas coisas, só vos fica bem. mesmo que vos traga menos fãs.
(p.s.: eu reconheço todo o paradoxo de eu próprio estar a difundir uma opinião. mas que seria da vida sem paradoxos, não podem ser só sóis a nascer e a ir-se deitar.)
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