eu ia a correr floresta fora quando senti o vento vir floresta dentro. as árvores entraram em tumulto, as folhas começaram a revirar-se, os troncos a lutar para ficar junto ao chão e o céu ficou escuro como breu. veio uma nuvem, depois outra, encavalitaram-se entre si e começaram a descarregar electricidade como se fossem uma central energética. os raios caíram por todos os lados, a vida parecia um jogo de plataformas para game boy em que de repente me tinha tornado na personagem e o criador do jogo em sádico controlador do meu destino.
corri até ao que vi de mais parecido com um abrigo, uma gruta com pouca luz. entrei nessa gruta e senti um conforto que o freud explicaria em três tempos. explica-me muito o freud, sempre que tomamos café sexta sim, sexta não. não explica tudo, mas apenas porque percebe pouco de bola.
a gruta protegeu-me nas horas seguintes. o mundo lá fora mudou sete vezes e na minha face o sorriso de conforto passou a riso sardónico de vitória. foi nessa altura que o chacal, o urso pardo e a boa constrictor me atacaram. não dei por nada. despacharam-me mais depressa do que um raio demora a chegar do céu ao solo.
acho que só nos tornamos verdadeiramente adultos no momento em que percebemos que, para o bem e para o mal, as aparências iludem.
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