O palhaço abriu a porta e saiu à rua. À primeira ninguém reparou nele... afinal, estava vestido com cores nada vivas e apenas maquilhado ao de leve. Continuou viela após viela, até chegar à Avenida Principal. Aí chegado montou o seu "estaminé". O chapéu estrategicamente colocado diante do seu plateau, mesmo a jeito de receber as contribuições de quem passasse. Um lençol no chão, encarnado pois claro, há que chamar a atenção...
E ali passou a manhã. Imitou, deu piparotes, encheu balões, tocou saxofone, tentou encantar e tentou e tentou...
Era já hora de almoço, mas ele não foi almoçar. Tinha de aproveitar a maior afluência de público!
A paciência esgotou-se por volta das três da tarde. O desespero infiltrou-se até às entranhas do palhaço pois em tanto tempo de vida, muitas vezes complicada, nunca tinha tido um dia assim, em que ninguém olhasse sequer para a sua arte. Incrível como em toda uma manhã e princípio de tarde nem uma criança, nem um reformado, nem um turista... ninguém parou para o ver.
Pegou no chapéu tão vazio como a sua alma e subiu a Avenida a pensar na vida.
No dia seguinte encontraram o palhaço enforcado numa corda pendente da estátua que encimava a Avenida Principal. E então... todos notaram a sua presença...
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