há um momento em que tenho a certeza que o tempo pára.
são micro-segundos. o tempo em que olho fixamente para dentro dos teus olhos. seria mais fácil achar que o olhar ficava preso na cor, nos milhões de cristais roubados ao arco-íris, que escondem habilmente os segredos guardados lá dentro na alma. mas não, fica preso no instante em que a pestana superior pára de subir e se imobiliza, antes de descer novamente. é o momento em que tudo cede.
quando a pestana resolve mudar de direcção, todo o mundo se suspende num maravilhoso golpe de rins. o rímel sente a vertigem de quem anda numa montanha-russa e deixa-se ir no doce contorno da descida que vai levar a uns olhos fechados.
o perfume intenso das emoções espalha-se em pequenas borrifadelas. são puffs de paixão, disfarçados com cosméticos ou artifícios, mas que denunciam o criminoso em flagrante delírio. são borboletas-no-estômago-like. são dragões chineses, daqueles a brincar, a encher as ruas de uma cidade diferente, uma cidade sem nome, em que os cidadãos não têm duas pernas ou dois braços, mas sim um corpo diferente, de estrutura complexa e não de fisicalidade simples.
é por isso que sei que o tempo pára nesse momento. quando a tua pestana desce, ouvimos o barulho dos carris debaixo dos nossos pés. o horizonte torna-se repentinamente vertical e desorizontalizado e mergulhamos no vórtex da descida, fazendo muita força para agarrar o corpo à carruagem.
quem vê de fora, acha que temos medo de cair. mas eu sei que a força é para que a viagem nunca tenha fim.
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