o nevoeiro da noite vem disfarçado de um modo de tal forma universal que chego a acreditar que as máquinas de teletransporte estão precisamente escondidas, ocultas, ali no meio. e algum defensor do sebastianismo deve ter tido a mesma suspeita que eu (ou vice-versa), daí o mito. pedaços de água, amarrados em jeito de nuvem, descansam mais perto da terra do que é habitual. como se estivessem de visita. como se viessem de lente angular de máquina reflexa em punho, dispostas a descobrir o que se passa e quem passa no que se passa. dizem que se sonha mais quando há nevoeiro. sonha-se de facto mais quando há nevoeiro. não deixa de ser irónico que no momento em que a visão real do exterior se torna mais turva a visão decidida do sonho se torne mais clarividente. vou ali pôr um pé em áfrica, o queixo na ásia e o tornozelo na antárctida. ou, por outras palavras, aproveitar o nevoeiro para viajar até onde bem a vontade me levar, sob a forma de sonho.
uma palavra vale mais que mil imagens.