a placa das partidas tem o ar sensaborão do branco e do preto, mas quem a cheira de perto sabe que nela se perdem todos outros mundos e destinos, que navegam por corpos como baldes de adrenalina lançados sem pedido de autorização.
o toque da pele dá a certeza da direcção. inventam tantas portas mas quando uma mão toca na outra, e os olhos se cruzam por microsegundos, o mundo todo desaba, as pernas fraquejam, e o íman do destino é mais forte do que aquele castelo que quisemos trazer lá de longe e que colámos toscamente na porta do frigorífico.
os pontos de encontro desencontram-se dos caminhos perdidos. os megafones anunciam partidas mas os nossos olhos só vêem chegadas. cheira a borracha de bagagens e a perfume de hospedeiras mas o nosso nariz só cheira nozes moscadas, praias mascadas, águas mergulhadas e sóis bebidos. lá longe, onde as árvores brincam às construções na areia, e as algas fingem que são tenebrosos tubarões, há um sol que nasce, outro sol que se põe, e horas para ser vividas entre um e outro, para cima e para baixo, como se fôssemos aquele canalizador baixote de bigode que saltava em busca da princesa. no paraíso não há princesas antecipadas. elas aparecem. nascem dos vermelhos com que se pinta o céu e com que se pintam os lábios. e as unhas também, estamos uns mãos-largas com o vermelho. da leve e discreta brisa que teima em ondular os cabelos e dos grãos de areia que sorrateiramente descansam na palma das mãos e assim navegam em caravelas de desejo até às faces acabadas de corar.
mesmo quando o céu desaba é para renovar. corremos na chuva e rimos do tempo. brincamos aos avessos e chovemos no molhado. porque o sorriso é coisa para ter mais energia que um relâmpago. e a energia é aquilo que levamos da vida.
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