a lebre saiu disparada de tal forma que era quase garantido que ia bater recordes. superou-se com os gritos vindos das bancadas, com o bruá de satisfação de todos os espectadores, com a espectacularidade do seu avanço.
a lebre chegou primeiro a quase tudo. na vida, como nas corridas de animais em fábulas, há tendência a ligar o sucesso (pessoal, profissional, o que vocês quiserem-al) ao imediatismo com que a ele se chega. o ' depressa e bem há pouco quem ' passou de moda numa época em que o foco em qualquer assunto ou objecto dura segundos e a pressa se entrelaça com fios de stress ao longo de qualquer dia da semana.
não vale a pena. somos crianças com pressa de chegar a adultos, para depois vir a pressa de ser adultos mais completos, de acelerar em direcção a um sucesso que muitas vezes não parámos sequer para definir ou entender. hipotecamos o presente em função de um futuro que será ele também um presente hipotecado. a menos que paremos a espaços, que nos sentemos no banco do jardim e deixemos os sentidos fazer o que eles sabem. todas as máquinas precisam de resets. todos os corpos precisam de sol e de silêncio e de pausas que dancem com tumultos. os pores-do-sol de mãos dadas com a natureza são oxigénio para a alma, e servem para entender que o ' aqui e agora ' é bem mais palpavél do que o que vem a seguir.
forçam-nos a ser lebres, mas muito do que somos depende daquilo que aceitamos que façam de nós.
é sempre bom lembrar que no fim de contas foi a tartaruga que levou a melhor.
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