Avançar para o conteúdo principal

a vida tem muito de tomb raider

a lebre saiu disparada de tal forma que era quase garantido que ia bater recordes. superou-se com os gritos vindos das bancadas, com o bruá de satisfação de todos os espectadores, com a espectacularidade do seu avanço.

a lebre chegou primeiro a quase tudo. na vida, como nas corridas de animais em fábulas, há tendência a ligar o sucesso (pessoal, profissional, o que vocês quiserem-al) ao imediatismo com que a ele se chega. o ' depressa e bem há pouco quem ' passou de moda numa época em que o foco em qualquer assunto ou objecto dura segundos e a pressa se entrelaça com fios de stress ao longo de qualquer dia da semana.

não vale a pena. somos crianças com pressa de chegar a adultos, para depois vir a pressa de ser adultos mais completos, de acelerar em direcção a um sucesso que muitas vezes não parámos sequer para definir ou entender. hipotecamos o presente em função de um futuro que será ele também um presente hipotecado. a menos que paremos a espaços, que nos sentemos no banco do jardim e deixemos os sentidos fazer o que eles sabem. todas as máquinas precisam de resets. todos os corpos precisam de sol e de silêncio e de pausas que dancem com tumultos. os pores-do-sol de mãos dadas com a natureza são oxigénio para a alma, e servem para entender que o ' aqui e agora ' é bem mais palpavél do que o que vem a seguir.

forçam-nos a ser lebres, mas muito do que somos depende daquilo que aceitamos que façam de nós.

é sempre bom lembrar que no fim de contas foi a tartaruga que levou a melhor.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

À terceira é de vez!!!

Como tenho muita lata... este post é na linha de dois recentes... (um deles mesmo recentíssimo, o meu último) e trata da adaptação, não de séries (porque somos muito oranginais por estas bandas e isso depois na verdade tornar-se-ia repetitivo... quer dizer... até parece que assim não...), mas sim de filmes estrangeiros, para português. São novidades muito secretas e portanto só espero que tenham bastante cuidado na divulgação das mesmas (ao dizer isto espero que as publicitem, bem como a vinda aqui ao meu "little corner", numa jogada minha à laia d'"o fruto proibido é o mais desejado"). - Tó Pegane : história de um filho de uma ex-emigrante "na França" (daí a sempre típica mescla do nome António com o Pegane do francês com quem a senhora se casou). O rapaz entra para a Força Aérea, e depois há para lá umas intrigas. Ah! Na cena mais espectacular do filme, Tó Pegan faz um cozido à portuguesa, utilizando para aquecimento dos ingredientes a barriga...

na moda

Está na moda escrever sobre o amor. O truque é pintar o dito de lugares comuns e adornar o produto final com duas ou três asneiras das pesadas para emanar pseudo-rebeldia. O conjunto de palavras é tão bonito e tem uma força tão positiva que o que está mesmo a pedir é para ser posto num rectângulo, acompanhado de uma imagem do pôr-do-sol/paisagem verdejante/gatinhos/silhueta de um ou dois corpos (riscar o que não interessa) e feito, está pronto a sair do forno para esse sufrágio universal que são as redes sociais. Está na moda gostar dessa visão do amor. Que tenta copiar alguns traços dos mestres mas que os copia mal e porcamente, borra a tinta toda, mas encontra destinatários com a visão tão baça que nem dão por isso. Dantes havia o condão de ficar preso às letras do Shakespeare, do James, do Cummings e de tantos outros. Todos eles vieram por aí fora, ainda há bem pouco tempo dava para jogar à macaca com o Cortázar, mas está tudo a trocar a macaca por meia dúzia de macacos, que ap...

Sliding Doors

Assim que abriu a porta sentiu o cheiro do perfume dela. As moléculas atravessavam todos os recantos da sala, saltavam do pescoço dela, atravessavam as partículas feitas do mesmo pó que as estrelas, para se irem alojar nos sensores olfactivos do seu nariz, refinados durante anos para saber distinguir o agradável do nauseabundo, bem como tudo o que está pelo caminho. Os cabelos dela brilhavam como se tivessem sido tocados pelo Rei Midas. Deslizavam pelas costas, lembrando-lhe a cor com que fica a encosta inclinada de uma montanha naquele lusco-fusco que se precipita ao pôr do sol. O nariz dela tinha as proporções perfeitas de uma rainha do século XVIII e era empinado o suficiente para lhe dar o ar de quem sabe por onde vai. Os seus olhos estavam, com certeza, nos lugares cimeiros da lista dos olhos mais bonitos do mundo. Tinham tanta vida, pensou ele, eram da cor que resultaria do acasalamento do azul turquesa com aquele verde dos lagos da Croácia. ...