congelaram primeiro umas poças de água manhosas que estavam ali à saída do restaurante chinês. depois congelou a berma da estrada, catapultou-se o lago dos patos e logo se seguiu o lago que se vê do céu. dos satélites. da lua, com uns bons binóculos ou com um telescópio daqueles que eu queria sempre pelo natal.
quando dei por mim estavam esculturas de gelo penduradas em ramos de árvore. o artista não recebeu comissão, trabalha barato e mais por vontade própria do que por necessidade de fama. dei a volta ao quarteirão para procurar a bilheteira, porque sou inimigo de entrar à socapa, mas não encontrei quem cobrasse a entrada. só um esquilo, pendurado num cabo da luz, a olhar para mim enquanto trincava uma bolota. fiquei um bocado a pensar no que é que ele estaria a pensar de toda esta cena, porque sei que os esquilos são animais bastante pensadores. mas os olhos dele estavam no horizonte e tinha um ar sonhador, o que me fez duvidar da legalidade daquela bolota.
mergulhei os pés nesse chantilly que cai do céu em flocos para ver a escultura de perto e os meus joelhos andaram para ali numa luta que os fez parecer greco-romanos. mas valeu a pena.
vale sempre a pena, quando a manifestação da natureza não é de uma grandiosidade pequena.
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