o sol ainda vai alto mas a lua já quer dizer olá. o volume é quase tão alto como ficará mais tarde, mas ainda se mistura com o nevoeiro das leveduras e com a entrada de gente que parece pouco mais do que formigas num carreiro.
ela salta do nada, sorri e corre na direcção do abraço que marca mais do que mil volumes de romances russos. com menos tragédia, sangue e lágrimas. enrola-se no abraço, rebola pelo resto da noite, perde-se em rimas de língua estrangeira, poesia disfarçada de tempos modernos e de batimentos que entornam ritmos em cima da mesa que é a vida.
um casal aparece e acena a dizer que sim. o sol já se escondeu a oeste, mas a lua sorri. são dois num. são sorrisos transformados em hiper-sorrisos e sangue que corre pelas veias como se fosse o coelho da alice. a paixão traz sempre a pressa que a vida não tem. o sangue apressa-se a querer ser mais do que acha que consegue alcançar. os dias passam, os vasos abrem, os glóbulos passam. os vermelhos, os brancos, os cor de arco-íris. todos se juntam e sorriem, também eles, veias fora.
param.
param no coração para apreciar as paredes. olham as aurículas como quem vê a mona lisa pela primeira vez, pequena mas impressionante. saltam mitral fora, chocam com as paredes do ventrículo, sorriem de novo e são ejectados corpo fora como um homem-bala. por essa rede de vasos que parece uma árvore. por esses corpos múltiplos, que parecem uma floresta. não repousam porque nunca param. o sangue nunca pára. o coração nunca pára. quando pára deixa de sorrir e a lua pede mais do que isso, porque reflecte o sol, enquanto bebe uma garrafa de vinho tinto chileno e olha para o quarto e para o quinto planetas a contar do sol.
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