acordou com o som da chuva a bater no tecto do prédio. correu ensonado para o duche, seguido das estrelitas com leite. pôs a mochila, com três vezes o seu peso, às costas e calçou as galochas. saiu porta fora e sorriu ao avistar a primeira poça. atravessou-a feito navio de cruzeiro e sentiu o poder da borracha impermeável e colorida. saltou dentro da poça seguinte enquanto se imaginava um astronauta a brincar na lua. pensando bem sabia ter lido que a lua não tinha água. começava também a duvidar que os astronautas pudessem brincar, a vida dos adultos parecia dada a coisas demasiado sérias durante demasiado tempo. nada disso importava, contudo, porque aquela poça era aquele momento e os adultos eram os adultos, mais liberdade ficava para as crianças.
acordou com o som da chuva a bater no tecto do prédio. tropeçou do quarto até à sala onde acendeu um cigarro e bebeu de um trago o resto do whiskey que sobrava no copo da noite anterior, enquanto atirou a garrafa vazia na direcção do lixo. comeu uma fatia de pizza aquecida no micro-ondas. arrastou-se até ao duche e depois vestiu qualquer coisa que estava ali à mão e calçou as botas de inverno. amuou quando chegou à porta do prédio e viu o que chovia. voltou para cima, trouxe o chapéu e moveu-se até à paragem do autocarro. um carro passou rápido demais e encharcou-o de cima a baixo. sentiu vontade de gritar de raiva, mas ainda mais vontade de ter um fato de astronauta para andar na rua em dias de chuva.
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