perdido no meio de uma montanha daquelas que estão nas mais altas montanhas que o mundo conhece, encontrei um monge budista e resolvi perguntar-lhe algo que sempre me tinha suscitado curiosidade "o que é que o budismo tem a dizer sobre tatuagens".
durante tempo e tempo a fio, que com um monge budista parece sempre tempo a menos, explicou-me que duas correntes completamente opostas existem sobre a matéria. os 'contra' defendem que tatuar o corpo é criar uma marca definitiva, indo totalmente contra o princípio de desprendimento material, extensível ao próprio corpo. os 'pro' contrariam, dizendo que tatuar o corpo é a prova mais fantástica e evidente de desprendimento físico e que a prática deve ser incentivada.
como eles são budistas, falam sobre isto horas e não acabam fulos de raiva. discutem com argumentos nos olhos e nas línguas e não com duas pedras na mão.
de facto concordo mais com uma das correntes. tal como li recentemente escrito pelo josé luís peixoto, são pobres de espírito aqueles que acham que fazer uma tatuagem é mau porque fica para sempre, porque é uma coisa que não se pode mudar. podem não querer fazer uma, e isso merece o respeito de todo e qualquer fervoroso adepto do livre arbítrio, como eu sou. mas desenganem-se se acham que pigmentos de tinta na derme são mais definitivos do que o dia em que morreu o nosso pai ou a nossa mãe, do que o nascimento do filho tão desejado, do que o fim daquele curso, do que aquele emprego pelo qual lutámos a ferro e fogo e um pouco mais de ferro, ou todas as outras situações que nos formatam como seres vivos e não-vivos.
a vida são marcas. não importa de quê ou como. uma linha desenhada no ombro marca-me do mesmo modo que o cheiro do risotto de frutos do mar em portofino num final de uma tarde de verão. se trouxerem o chardonnay fresquinho, até o bebo nas duas ocasiões com idêntico prazer.
não somos mais do que um molde, e se fugirmos a todo e qualquer tipo de marca, vamos embora tão puros e tão não-trabalhados, que nunca teremos sequer descoberto se, por baixo daquela pedra tosca e romba, havia um diamante à espera de ser delapidado.
durante tempo e tempo a fio, que com um monge budista parece sempre tempo a menos, explicou-me que duas correntes completamente opostas existem sobre a matéria. os 'contra' defendem que tatuar o corpo é criar uma marca definitiva, indo totalmente contra o princípio de desprendimento material, extensível ao próprio corpo. os 'pro' contrariam, dizendo que tatuar o corpo é a prova mais fantástica e evidente de desprendimento físico e que a prática deve ser incentivada.
como eles são budistas, falam sobre isto horas e não acabam fulos de raiva. discutem com argumentos nos olhos e nas línguas e não com duas pedras na mão.
de facto concordo mais com uma das correntes. tal como li recentemente escrito pelo josé luís peixoto, são pobres de espírito aqueles que acham que fazer uma tatuagem é mau porque fica para sempre, porque é uma coisa que não se pode mudar. podem não querer fazer uma, e isso merece o respeito de todo e qualquer fervoroso adepto do livre arbítrio, como eu sou. mas desenganem-se se acham que pigmentos de tinta na derme são mais definitivos do que o dia em que morreu o nosso pai ou a nossa mãe, do que o nascimento do filho tão desejado, do que o fim daquele curso, do que aquele emprego pelo qual lutámos a ferro e fogo e um pouco mais de ferro, ou todas as outras situações que nos formatam como seres vivos e não-vivos.
a vida são marcas. não importa de quê ou como. uma linha desenhada no ombro marca-me do mesmo modo que o cheiro do risotto de frutos do mar em portofino num final de uma tarde de verão. se trouxerem o chardonnay fresquinho, até o bebo nas duas ocasiões com idêntico prazer.
não somos mais do que um molde, e se fugirmos a todo e qualquer tipo de marca, vamos embora tão puros e tão não-trabalhados, que nunca teremos sequer descoberto se, por baixo daquela pedra tosca e romba, havia um diamante à espera de ser delapidado.
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