os verdes anos do carlos paredes ressoam ecos nas paredes da memória através de polaroids de outros tempos
nostalgia.
uma palavra tão válida, que até dá para dar nomes a rádios. bem, isso talvez não seja critério, porque senão tenho de escrever um texto sobre a validade de coisas como "amadora de alenquer" ou "alma viva", também nomes de rádios.
sou meramente semi-nostálgico. adoro o passado, da mesma forma que venero o presente e endeuso o futuro. acho que tudo tem o seu lugar. o tempo traz uma nova forma de ver as coisas. sinto que há momentos do passado que pareceram tão claramente amargos, mas o tempo encarrega-se de os tornar agri-doces. ou aqueles bem azedos, que deixados a repousar em banho-maria uns quinze/vinte anos parecem abrir em todo o seu esplendor, mimetizando trufas deixadas a apurar debaixo de terra, trazendo consigo lá de longe tudo menos azedume.
dos vários 'eus' que percorremos toda a vida, a infância nunca vai perder o seu canto especial. julgo mesmo que a infância é o esplendor da exploração. achamos que não, que é no pico da capacidade física e mental que exploramos tudo, mas isso é mais aquilo de que nos convencemos, "entretidos" na nossa vida ocupada e de pseudo-gozo. claro que exploramos com mais capacidades. mas, ainda mais claro, exploramos muito menos tempo.
na infância estamos a descobrir barreiras. estamos a testar limites. se tivermos a feliz coincidência de ser amados e de ter tudo o que é preciso para ser feliz, o nosso debate é com o mundo. aprendemos que não é boa ideia pôr a mão dentro de um tijolo das obras quando somos picados por uma vespa. percebemos que descarregar a irritação birrenta numa pedra traz ainda mais birra com a dor que desperta no pé. ouvimos o raspanete de uma vida porque íamos agora mesmo beber meio frasco de xarope da tosse só porque é docinho. e em cima disso ainda nos apresentam, tentando esconder, tudo o resto que temos de descobrir daí em diante. falam-nos de "um sítio melhor" para onde vão os avós naquele dia em que estranhamente não os podemos ir visitar ao fim-de-semana, convencem-nos a acreditar que temos de nos portar bem para que "deus nosso senhor" goste de nós e que só os meninos que comem a sopa é que recebem presentes no natal.
no meio de tudo isto, a nossa infância é uma espécie de role-playing-game mais fabuloso do mundo. de um mundo encantado e que encanta. de um mundo de caos, em que a ordem com que nos querem proteger até à idade mais tardia possível é uma mera armadura para os sentimentos, e o reflexo da ilusão de algo diferente daquilo com que realmente nos vamos debater.
ainda antes de ler exaustivamente o friedrich, já acreditava que "one must still have chaos in oneself to give birth to a dancing star". mas eu não dormia muitas horas. é. é capaz de ser isso.
uma palavra tão válida, que até dá para dar nomes a rádios. bem, isso talvez não seja critério, porque senão tenho de escrever um texto sobre a validade de coisas como "amadora de alenquer" ou "alma viva", também nomes de rádios.
sou meramente semi-nostálgico. adoro o passado, da mesma forma que venero o presente e endeuso o futuro. acho que tudo tem o seu lugar. o tempo traz uma nova forma de ver as coisas. sinto que há momentos do passado que pareceram tão claramente amargos, mas o tempo encarrega-se de os tornar agri-doces. ou aqueles bem azedos, que deixados a repousar em banho-maria uns quinze/vinte anos parecem abrir em todo o seu esplendor, mimetizando trufas deixadas a apurar debaixo de terra, trazendo consigo lá de longe tudo menos azedume.
dos vários 'eus' que percorremos toda a vida, a infância nunca vai perder o seu canto especial. julgo mesmo que a infância é o esplendor da exploração. achamos que não, que é no pico da capacidade física e mental que exploramos tudo, mas isso é mais aquilo de que nos convencemos, "entretidos" na nossa vida ocupada e de pseudo-gozo. claro que exploramos com mais capacidades. mas, ainda mais claro, exploramos muito menos tempo.
na infância estamos a descobrir barreiras. estamos a testar limites. se tivermos a feliz coincidência de ser amados e de ter tudo o que é preciso para ser feliz, o nosso debate é com o mundo. aprendemos que não é boa ideia pôr a mão dentro de um tijolo das obras quando somos picados por uma vespa. percebemos que descarregar a irritação birrenta numa pedra traz ainda mais birra com a dor que desperta no pé. ouvimos o raspanete de uma vida porque íamos agora mesmo beber meio frasco de xarope da tosse só porque é docinho. e em cima disso ainda nos apresentam, tentando esconder, tudo o resto que temos de descobrir daí em diante. falam-nos de "um sítio melhor" para onde vão os avós naquele dia em que estranhamente não os podemos ir visitar ao fim-de-semana, convencem-nos a acreditar que temos de nos portar bem para que "deus nosso senhor" goste de nós e que só os meninos que comem a sopa é que recebem presentes no natal.
no meio de tudo isto, a nossa infância é uma espécie de role-playing-game mais fabuloso do mundo. de um mundo encantado e que encanta. de um mundo de caos, em que a ordem com que nos querem proteger até à idade mais tardia possível é uma mera armadura para os sentimentos, e o reflexo da ilusão de algo diferente daquilo com que realmente nos vamos debater.
ainda antes de ler exaustivamente o friedrich, já acreditava que "one must still have chaos in oneself to give birth to a dancing star". mas eu não dormia muitas horas. é. é capaz de ser isso.
Comentários