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perguntas e respostas (em inglês Q & A é mais chique)

duvido que os interlocutores se entendam sempre.

duvido que alguma vez tenham conseguido o equilíbrio perfeito, mas cada vez estamos pior. isto porque vivemos no tempo do imediato, do agora, onde o que acontece vale mais do que o que aconteceu e quando muito pode ser ponte para o que ainda vai acontecer. a densidade das coisas tem a mesma solidez das moléculas de água no momento imediatamente anterior à evaporação.

na terra das importâncias passageiras as perguntas e respostas são das que mais sofrem com isto. sempre reflecti bastante (mas depois adormeço e tenho de voltar ao início) sobre o porquê de fazer perguntas quando não se quer respostas. basta ligar num qualquer telejornal (vejam um filme de terror ou comam uma peça de fruta, que vos faz melhor) para questionar o real interesse por trás de cada questão.

sim, entendo que não haja tempo (ó deuses do olimpo! que sempre arranjaram tempo para tudo e agora não há tempo para nada, ainda que na verdade não haja falta de tempo mas sim de organização) para permitir que determinado convidado se perca na resposta, derive, e filosofe em demasia. se calhar devia haver, mas, enfim, admitamos que esse é um dado adquirido. o que perturba é que quase sempre me parece que quem pergunta não tem qualquer interesse na resposta e busca apenas a emissão da pergunta. a prova disso é que interrompe, destrói e demove o raciocínio alheio. se a ideia é perguntar para obter a resposta que se quer ouvir e no tempo que se quer ouvir é fácil hoje em dia programar robots que o façam. e levá-los como convidados. "aqui o Dr. R2D2 para falar de violência doméstica". "hoje temos connosco o Dr. C3PO para dar a sua opinião sobre a crise dos metais".

não me entendam mal, a interrupção e a disrupção são fundamentais, quando são construtivas. não quando são repetitivas e desadequadas. aí são meros instrumentos de agravamento de um dos principais males desta cada vez mais cruel sociedade. perguntar quando não se quer saber a resposta, em condições, é o mesmo que comprar pão para depois o deitar fora porque está com bolor e passou de prazo.

se fosse hoje em dia imagino que quando o pitágoras fosse a dizer "e então descobri que a soma do quadrado dos catetos é igual à..." alguém o interromperia para ir mostrar o ronaldo a atrapalhar-se com palavras relacionadas com a ausência de caspa.




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