tentei descobrir porque é que as nuvens são feitas de algodão doce.
mesmo aquelas muito escuras, de certeza que só o são assim porque a senhora da feira deixou o fuso que enrola o açúcar aquecer demais e ficou tudo queimado. apesar de tudo há algum engenho nesta arte, porque máquinas grandes o suficiente para fazer toda esta enormidade não são nada fáceis de esconder. chego a acreditar que há prédios mascarados de prédios só para manter secreta a produção em larga escala de nuvens, doces como os céus em que pontificam.
todas as outras voltas que as nuvens dão, são brinquedos de criança. nada assusta verdadeiramente. o que são flocos de branco, cinza ou azul eléctrico ao pé de tantas outras coisas muito mais impressionantes?
um tornado é um menino, ao pé da força que tem o mar, quando invade a areia sem permissão e lhe impõe a sua força e o seu sal. ou a água que cai deste algodão e é capaz de escavar rochas e fazer de alguns canyons grandes, só porque é essa a sua vontade de escorrer.
para não falar das outras forças, aquelas que nos prendem horas a fio entre lábios brilhantes e olhos propositadamente sombreados. entre sardas perdidas e caracóis soltos. perante essas o céu até desaba, mas no fundo como se lhe desse aquela fraqueza nas pernas de quem tem de falar para uma plateia de milhares de pessoas e não controla a ansiedade.
na verdade é isso. o céu vive alguns dias com um enorme nó, bem apertado, na garganta. as nuvens são gravatas ou laços, que adocicam o seu infinito e disfarçam as revoluções que se passam mais abaixo, nas forças que realmente centrifugam. e centrípetam. alternadamente. sem parar.
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