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No meu tempo só as varinas

“Calçado sem tacão, para uso doméstico” diz o meu dicionário. Mas este é ainda uma primeira edição dos anos sessenta, herdada do meu pai, e o seu autor teria, muito provavelmente, de alterar esta definição, hoje tão desapropriada e ofensiva para as tias com nomes pomposos de consoantes duplas que aparecem na revista Caras (algumas quem as conhece?) e para a escandalosa quantidade de mulheres que as imita e invade as sapatarias em busca da nova moda – o chinelo.

Da praia para as festas e da intimidade do lar para o emprego, vestidas a rigor com a última criação de Tenente ou envergando um fato mais modesto comprado no pronto-a-vestir do bairro, o que parece indispensável é que o calçado faça tac-tac quando se sobem escadas e que os calcanhares estejam sempre bem polidos (rentável, sem dúvida, para as drogarias de esquina que não vendiam pedra-pomes há anos). “No meu tempo só as varinas usavam chinelos na rua”, diz a minha mãe. Nos dias que correm são médicas, professoras, jornalistas, cabeleireiras, vendedoras ambulantes, mulheres que nada fazem (leia-se Lili Caneças e afins)…
As modas vão mas mantêm-se as atitudes. É que quando a chinela desaparecer, pessoas que arrastam os chinelos nos mais diversos empregos não passarão, certamente, de moda!

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