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colchões de água

os colchões de água são tipos perigosos. não só porque correm o risco de inundar o chão de um quarto se alguma coisa correr mal, como porque funcionam à laia de sensação desconhecida. pelo menos da primeira vez. sentar ou deitar num colchão de água é igual ao momento em que as nossas pernas entram numas escadas rolantes desligadas e sentem a insegurança de algo que não está no sítio certo. o corpo questiona-se, os sensores da rotina tremem de medo e a estranheza paira durante os curtos segundos que antecedem a habituação. quem tem o hábito de saltar para cima (dos colchões, não das escadas rolantes, mas que raio de tara é essa?) deles pode sentir ainda mais na pele o choque da pele com o bailado da água que vive dentro do colchão. depois habitua-se. depois é bom. depois é diferente.

a vida, como não podia deixar de ser, adora imitar colchões. de água e dos outros. os corpos estão por demais habituados a fazer os mesmos caminhos, a conhecer as mesmas pessoas, a dormir no conforto dos cobertores conhecidos e a viver na floresta de cujas plantas se conhece tão bem o cheiro. sair do caminho principal não é fácil, não é prático e não é tranquilo. somos como elefantes em lojas de porcelana. outras vezes como elefantes saltando suavemente de nenúfar em nenúfar. tudo isso envolve a mesma insegurança, o mesmo salto no abismo, o mesmo jogo de brincar com outros sentidos que não aqueles que nos são vendidos de origem na loja dos nascimentos.

mas o risco, por vezes, muitas vezes, paga o medo. porque os colchões podem ser de água. mas raramente rompem. e se rompem, que seja por bem.

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