os sítios aparentemente perdidos guardam segredos que não polvilham sob a forma de tinta qualquer mapa de tesouro.
os sítios achados têm muitas vezes algo de fantástico para visitar. algo de extremamente belo. algo que faz milhões, biliões, triliões de almas deslocar-se no passo rápido do viajante de ocasião para planar sobre essa beleza contada. e assim se chega, se vê e se parte. a visita a esses lugares tem a tónica daqueles vôos de treino, em que o avião faz a aproximação à pista, toca ao de leve no asfalto, sentindo o cheiro da terra como se de uma borrifadela de perfume se tratasse, e logo deriva o ângulo para subir na direcção de outras luas. esse toca-e-foge permanente marca o nosso dia-a-dia, o nosso noite-a-noite, e até muita da nossa fuga ao dia-a-dia, quando visitamos alguns desses lugares.
os sítios perdidos não têm essa ambição de corresponder a qualquer expectativa. os sítios perdidos, vendidos como fora de mão, entrecruzados em rotas de decadência, deixam-se ficar. são a terra com perfume que não augura ser borrifado sobre nada. o seu encanto emana da sua própria natureza perdida. engraçado como alguns desses lugares são usados por vezes em anedotas ou situações anedoctais como exemplo de fora-de-mão, de desinteresse, de fim-do-mundo. não será o fim do mundo um bom lugar para encontrar para esse próprio mundo um fim?
entre uma praia totalmente deserta, namorando árvores despidas pela rigidez de um inverno que se quer tão rigoroso como um triângulo ditatorialmente equilátero, um lago semi-gelado insinua-se com pequenos rios que brincam ao jogo da aproximação. pequenas trutas viajam saltando ali ao fundo, imunes à pressão que nunca pediram. talvez discordem do rumo a tomar, porque vejo que nadam em direcções diferentes. o sol sorri de braços calorosamente abertos para as margens e cria aquele maravilhoso espelho grátis que só ele sabe criar na natureza pura.
do outro lado do rio três veados olham curiosos para mim, perguntando-se, a meu ver, o que estou eu ali a fazer, neste fim do mundo, onde apenas os veados brincam com as raízes e as trutas nadam livremente na água gelada. porque não estarei eu onde todos os outros estão neste momento, no princípio do mundo, a aguardar quarenta e oito minutos numa fila de mais pessoas do que ovas têm as trutas, para fazer o meu papel nessa roda dentada de que o mundo depende?
sorrio do fundo do coração para o outro lado do rio, na esperança de os fazer compreender que hoje sinto ali, perdido no meio do nada, aquilo que raramente, se alguma vez, se encontra no meio do tudo.
os sítios achados têm muitas vezes algo de fantástico para visitar. algo de extremamente belo. algo que faz milhões, biliões, triliões de almas deslocar-se no passo rápido do viajante de ocasião para planar sobre essa beleza contada. e assim se chega, se vê e se parte. a visita a esses lugares tem a tónica daqueles vôos de treino, em que o avião faz a aproximação à pista, toca ao de leve no asfalto, sentindo o cheiro da terra como se de uma borrifadela de perfume se tratasse, e logo deriva o ângulo para subir na direcção de outras luas. esse toca-e-foge permanente marca o nosso dia-a-dia, o nosso noite-a-noite, e até muita da nossa fuga ao dia-a-dia, quando visitamos alguns desses lugares.
os sítios perdidos não têm essa ambição de corresponder a qualquer expectativa. os sítios perdidos, vendidos como fora de mão, entrecruzados em rotas de decadência, deixam-se ficar. são a terra com perfume que não augura ser borrifado sobre nada. o seu encanto emana da sua própria natureza perdida. engraçado como alguns desses lugares são usados por vezes em anedotas ou situações anedoctais como exemplo de fora-de-mão, de desinteresse, de fim-do-mundo. não será o fim do mundo um bom lugar para encontrar para esse próprio mundo um fim?
entre uma praia totalmente deserta, namorando árvores despidas pela rigidez de um inverno que se quer tão rigoroso como um triângulo ditatorialmente equilátero, um lago semi-gelado insinua-se com pequenos rios que brincam ao jogo da aproximação. pequenas trutas viajam saltando ali ao fundo, imunes à pressão que nunca pediram. talvez discordem do rumo a tomar, porque vejo que nadam em direcções diferentes. o sol sorri de braços calorosamente abertos para as margens e cria aquele maravilhoso espelho grátis que só ele sabe criar na natureza pura.
do outro lado do rio três veados olham curiosos para mim, perguntando-se, a meu ver, o que estou eu ali a fazer, neste fim do mundo, onde apenas os veados brincam com as raízes e as trutas nadam livremente na água gelada. porque não estarei eu onde todos os outros estão neste momento, no princípio do mundo, a aguardar quarenta e oito minutos numa fila de mais pessoas do que ovas têm as trutas, para fazer o meu papel nessa roda dentada de que o mundo depende?
sorrio do fundo do coração para o outro lado do rio, na esperança de os fazer compreender que hoje sinto ali, perdido no meio do nada, aquilo que raramente, se alguma vez, se encontra no meio do tudo.
Comentários