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sobre aquele sítio onde levam as pessoas a ver os aviões

o centro do mundo é bem capaz de estar geograficamente lá naquela zona meio esquisita cheia de níquel e coisas que tal. nunca ninguém lá foi, tirando o júlio verne em imaginação, mas a minha ideia é que o centro do mundo deve ser qualquer coisa assemelhada de uma pilha. é melhor nunca o deixarem destapado ao sol, porque eu já fiz isso com pilhas das outras e garanto-vos que é coisa que baba.

fora do geográfico, tenho a certeza que o centro do mundo está nos aeroportos. nos vários. é um centro descentrado que se descentra tão harmoniosamente que chega a parecer estar centrado.

nenhum outro lugar brinda de forma tão fugaz o cruzamento de gente que chega com gente que parte. nenhum outro lugar tem gente a chorar de alegria no andar de baixo enquanto outros choram de tristeza no lugar de cima. nenhum outro lugar representa tão bem este formigueiro arraçado de colmeia, onde os seres humanos brincam ao toca e foge, às verdades, às consequências, aos beijos de ocasião e à ocasião do beijo.

a vida de um aeroporto é como a vida de uma sopa cósmica. destrói-se e reconstrói-se a cada momento. explode e implode ao som de tons doces misturados com razrrrs de motores potentes que teimam em invadir o céu idos da terra e re-invadir a terra regressados do céu.

o caos organizado do aeroporto é tudo isso. e tão bom de observar como uma chuva de estrelas numa noite limpa de verão. ambos são espectáculos de migração. só as personagens é que diferem e o encenador acaba por ser/não ser (riscar o que não interessa) o mesmo.

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