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Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2012

o espírito da época

é bonito e popular chegar a um ou dois meses do natal e lembrar o ' espírito da época '. não contrariando essa ideia, eu sempre fui mais defensor de transformar o espírito da época em época do espírito. sei que o natal está pensado para nos fazer sentir melhor. dar e receber presentes passa por aí. o prazer e alegria de rasgar papel e desfazer laços. a expectativa de encontrar um sorriso e um ar de satisfação em quem recebe o que comprámos para oferecer. o problema destas vontades é quando elas são passageiras e instituídas. durante todo o ano fazemos coisas bem e mal. durante todo o ano somos boas e más pessoas. durante todo o ano nos arrependemos de coisas que fazemos, que não fazemos e que nos fazem. e trabalhamos, ou devíamos trabalhar, constantemente, sem rendição para construir um ser humano melhor. não me preocupa que as pessoas tenham tendência a ser boas nesta altura do ano. preocupa-me que durante o resto do ano, e sobretudo nos detalhes que prendem a existência

perguntas e respostas (em inglês Q & A é mais chique)

duvido que os interlocutores se entendam sempre. duvido que alguma vez tenham conseguido o equilíbrio perfeito, mas cada vez estamos pior. isto porque vivemos no tempo do imediato, do agora, onde o que acontece vale mais do que o que aconteceu e quando muito pode ser ponte para o que ainda vai acontecer. a densidade das coisas tem a mesma solidez das moléculas de água no momento imediatamente anterior à evaporação. na terra das importâncias passageiras as perguntas e respostas são das que mais sofrem com isto. sempre reflecti bastante (mas depois adormeço e tenho de voltar ao início) sobre o porquê de fazer perguntas quando não se quer respostas. basta ligar num qualquer telejornal (vejam um filme de terror ou comam uma peça de fruta, que vos faz melhor) para questionar o real interesse por trás de cada questão. sim, entendo que não haja tempo (ó deuses do olimpo! que sempre arranjaram tempo para tudo e agora não há tempo para nada, ainda que na verdade não haja falta de te

a inspiração adora jantar com notas musicais

ainda estou para saber quem decidiu que o sexto sentido feminino é a intuição. e também ainda estou para saber quem é que deixou um saco de lixo à porta do elevador do meu prédio. mas hoje preocupa-me mais saber quem se meteu nessas andanças de achar que percebia o que ia para lá dos cinco sentidos. sempre adorei o sexto sentido feminino mas nunca desvalorizo os seus outros cinco, habitualmente astutos que nem o animal selvagem que todos somos (ou sabemos ser). uma das coisas mais fascinantes dos sentidos é virem de origem como uma espécie de naipes de jogo de cartas. existem todos isolados, mas (em certos jogos, vá, não quero irritar nerds das cartas ou idosos que passam as tardes no jardim), atingem a sua beleza máxima quando formam  uma equipa e quando o seu conjunto representa mais que a soma das partes. claro que o maestro desta orquestra está lá para os lados onde o descartes achava que a alma e a razão se encontravam. mas, como em tantas outras coisas, este maestro não tra

as coincidências estão para a vida como o fermento para os bolos

basta-me uma questão de segundos com os olhos postos numa imagem do passado para um sorriso me invadir a cara com aquela intensidade com o que sol invade os poros da pele num dia de verão. a fotografia mostra-me um eu vinte e cinco anos menos atacado pelo tempo, com um sorriso ao mesmo tempo inocente e despreocupado de quem tem toda a vida pela frente e um nível de responsabilidade mais pequeno do que uma abelha numa colmeia. o tempo não só muda as cores (impressionante como a resolução e o digital mudaram o modo como gravamos o presente à medida que deixa de ser passado) como deixa a descoberto todas as ironias e sinais que jamais pensámos ser possível existir. por trás da criança, que eventualmente pensava em mil histórias para a sua colecção de playmobil e legos, está nublado, mas visível, um lugar onde vinte anos mais tarde a criança ia pôr os pés com uma bata branca, um estetoscópio, e o desejo de cumprir um sonho surgido pouco tempo depois da captação do momento. aind

toda uma espécie de arco-íris

entrou no café com o ar desafogado de quem não vive debaixo da água que o mundo quer à força impor. o seu casaco verde alface podia ser uma peça de artista da última colecção de moda, vendido pelos melhores estilistas custando o mesmo que custa uma casa em mais de oitenta e três por cento do mundo. não era o caso. era só um casaco, comprado de entre tantos outros, perdido num qualquer armazém de uma grande superfície, recolhido por força de um desconto apetecível e de uma vontade de estrear algo que chocasse com a força da luz. o quadro ficava completo com umas calças amarelo torrado e uns sapatos que pareciam ser reciclados de um disco de vinil. um disco de vinil a tender para o grená, vá. a minha primeira impressão foi que a bandeira do brasil tinha acabado de ganhar pernas e braços e decidido entrar café dentro numa súbita e inesperada publicidade turística. não era o caso. vi que a pretensa bandeira tinha o cabelo grisalho dos oitenta/noventa anos. debaixo do festival de cor