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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2014

o valor da opinião

eu ainda sou do tempo (já começamos mal) em que a opinião era uma coisa difícil de difundir. para ter tempo de antena num jornal ou para ter um livro publicado era preciso ter qualidade à prova de bala. ou uma boa cunha. mas apesar de tudo, em geral, o critério "qualidade" tinha tendência a prevalecer. num ápice veio esta maravilhosa democratização em que todos temos direito a blogs, podemos publicar livros de borla online e dão-nos colunas em jornais diários como quem oferece jornais de qualidade duvidosa no metro e nas filas de trânsito. uma coisa que tinha tudo para ser boa, abrindo o mundo a mais opiniões e pontos de vista, tem sido, na minha modesta opinião, um semi-desastre. e o "semi" é só porque pelo meio do imenso ruído se descobrem pessoas e opiniões de muito valor, que nunca teriam atingido a ribalta na apertada meritocracia do passado. mas para encontrar essas trufas é preciso escavar em tanta terra vazia que chega a ser desesperante. toda

bully de almas

há qualquer coisa com o sol a pôr-se e com o sol a nascer. eu tenho um stendhal constante com esses preciosos momentos, mas parece-me que o que me afecta é viral e contagia bem mais de meio mundo. são instantes passageiros mas que, como nenhuns outros, nos lembram dos ciclos, nos ajudam a re-centrar, nos afirmam duas vezes ao dia que continua tudo a girar e que o caminho é para a frente ou para trás, mas à volta do eixo pela certa.  já é de manhã. já é de noite. os pássaros carregam no play ou no pause consoante o evento. são muito mais ordenados do que nós, aqueles com a mania de andar só sobre as duas pernas e que não usam os membros superiores para voar.  o que é uma pena. seria tão mais fácil perseguir o sol com asas. com alguma distância, que não queremos soltar o ícaro que há em nós. mas ainda não perdi a esperança de passar mais de vinte e quatro horas atrás do sol (embora já tenha andado bem perto disso, mas com ajuda de motores não conta). estou a desenhar

ardente

a facilidade com que os dedos se entrelaçam. a dificuldade com que os dedos se soltam. lembra-me o momento em que as forças centrífugas brincam com as centrípetas e rodam que nem crianças a brincar no jardim. os dias passam, as páginas viram uma a seguir à outra, a tinta sangra da esquerda para a direita (noutros lados da direita para a esquerda), mergulha nas linhas, salta entre elas, rasura o fim e recria o princípio. são lágrimas de preto misturadas com lágrimas de branco. fazem das linhas pautadas música e crescem como o 1812 do tchaikovsky. deixam o barco do pedro para trás, grande ou pequeno, atravessam a ponte. sentam-se nos degraus a olhar para o cristo salvador, sem perceber se a cúpula dourada os salva ou se salvam eles a cúpula. atiram-se ao rio. fogem para norte. param. olhos claros. parar. observar. lábios cheios. lua também. cabelos longos. sempre os cabelos longos montados em pescoços ainda mais longos e capazes de derrotar impérios. mais cúpulas. mais t