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Mensagens

A mostrar mensagens de agosto, 2004

Vamos ao circo

Todos os anos, em Agosto, vejo cirandar uma carrinha do circo pelas ruas da outrora pacata vila alentejana onde passo férias. Uma voz gravada e ampliada pelo altifalante anuncia, entre outras diversões, simpáticos porquinhos e ursos do Cánadá (assim mesmo, com dois acentos, para parecer que o senhor que gravou a cassete é também ele estrangeiro, talvez pertencente ao circo do Mónaco). O espectáculo reúne centenas de pessoas e, no ano seguinte, certo de outro sucesso, regressa à vila com renovado vigor. O circo perturba-me. Os porquinhos até podem ser simpáticos e não discuto a origem dos ursos mas há imagens que me impressionam. Meia dúzia de leões tristes enclausurados numa jaula pequena; macacos sem árvores para trepar; cãezinhos vestidos de bailarinas ou com o equipamento de clubes de futebol. E não só animais ... É o ilusionista que troca de roupa no intervalo e se transforma no atirador de facas; a assistente do ilusionista que tem quase sempre mais de 50 anos e ainda acu

A tradição do espelhinho

Hoje de manhã no barbeiro passou-se o que se passa sempre... - Olá senhor Fernando, como está? - Vaixe andando, vaixe andando. Depois lá se fala de bola, lá se tenta escapar às investidas do barbeiro para mudar o tema para a política e por aí fora. Mas o momento que considero o clímax do corte de cabelo tradicional, é quando no fim o senhor pega num espelhinho pequenino e nos mostra a parte de trás do cabelo. E ao mesmo tempo olha para nós e cabe-nos acenar. Apenas me pergunto, porque raio acenamos nós a aprovar o corte??? Acham que se o senhor nos tivesse esgravetado o cabelo todo lá atrás ia mostrar a calamidade do seu trabalho? E quando o trabalho não está escandalosamente mau, pouco sabemos para opinar sobre o assunto... Enfim, digam que sim.

Quando chove

O que acontece numa terra de praia quando chove? As pessoas não vão à praia - parece-me óbvio. Como as pessoas não vão à praia, todos os outros sítios, que não a praia, se enchem de um matagal de gente. O matagal acumula-se nos cafés, onde passo a ter que beber a bica de pé, como se já estivesse atrasada para o trabalho, nos mini-mercados de esquina que, cheios de pessoas, dão a ilusão de serem filiais do Continente, na farmácia (uma gota de chuva na mioleira é quanto basta para desencadear o pânico da gripe), nos salões de jogos que já tinham rufiões e passam a ter rufiões ao quadrado. Não há nada para fazer. Regresso a casa. Nas casas de férias as televisões só têm quatro canais e não estou com disposição para ver um episódio re-repetido do Rex. Leio para combater o tédio e o mau humor que este Inverno antecipado me provoca.

Pães e companhia

- A seguir, faxavôri! E pessoa atrás de pessoa, cada um pede a sua sandes. Uns preferem o queijo derretido a entrelaçar-se no bacon, outros o frango de aviário "entranchado" no pão e há ainda os que se deleitam com as delícias do mar, vulgo "marisco dos pobres". Em comum têm todos algo: estão nesta mesma fila à espera da sua sandes. E, de forma magnífica, a rapariga do balcão vai perguntando o que o cliente quer, mas não o cliente que está perto dela (esse já o atendeu). Questiona, isso sim, o sexto ou sétimo da fila e, após a resposta deste, lá acrescenta mais um tabuleiro à panóplia de tabuleiros vazios, com tickets soltos e selvagens, que estão à sua frente. Os sete coitados lá vão pacientemente esperando que as lesmas que trabalham nestes postos de "comida rápida", em tradução à letra, se dignem a trazer o seu pedido. Entretanto, podem até divertir-se a ver o Cajó a beliscar o traseiro da Vanessa, e assim testemunhar o amor entre dois emprega

Praia

Mais um Agosto que chega e com ele chega também a vontade de ir à praia. E na praia vê-se de tudo um pouco. Dá-me ideia que é provavelmente o local mais multicultural à face da Terra. Enquanto vou fingindo ler o meu livro, observo as múltiplas famílias e personagens à minha volta... A senhora que está lá por frete, o senhor que ainda julga que a sua musculatura abdominal é a de outros tempos, o míudo que pede a atenção dos pais, que fingem que não o ouvem... tantos casos para relatar. E há sempre os mais engraçados, entre os quais julgo poder eleger: - Os tipos do skeetboarding (ou wakeboarding...) que, invariavelmente, se "espetam" contra as pernas repletas de varizes das senhoras que só se tentavam molhar até ao joelho... - O senhor "hiper-oleoso" que deve achar que fica bem, mas que a mim me dá a clara ideia que o pobre infeliz tropeçou e estatelou-se por inteiro num balde de manteiga... - Por último o meu favorito de um destes dias, o míudo

Infância

Todos os grandes escritores exploram o tema da infância. Eu não sou uma grande escritora (não sou sequer uma escritora) mas hoje também quero falar da minha infância. Desse período recordo a ausência de responsabilidades e o tempo preenchido com brincadeiras criativas. Lembro-me ainda - e com menos saudades - de atitudes cruéis que me envergonham. Quando inventei que uma menina tinha piolhos, quando enterrei o aparelho dos dentes de uma amiga na areia da praia e todas aquelas vezes em que impedia as outras crianças de participarem em jogos porque, uma vez que os tinha inventado ou tomado a iniciativa de os jogar, achava-me no direito de excluir, por capricho, aqueles de quem não gostava. Outra coisa curiosa foi descobrir ao longo dos anos a quantidade de palavras que, apesar de se assemelharem foneticamente à palavra original, eram ridiculamente mal pronunciadas ou escritas. Eu pensava, por exemplo, que rebuçado se dizia burro-assado e escrevia igreija e muinto nas composições d