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A mostrar mensagens de 2010

adoro este jogo do faz de conta que merecemos todos caixas de ferrero rocher

o natal. sem dúvida que é uma época com os seus altos e baixos. revisitamos a família, fazemos jantares de amigos, revemos o love actually e o home alone e aproveitamos, umas horas que seja, para ficar no quente do enrolado do sofá, a brincar às lareiras, verdadeiras ou fictícias. mas o natal traz o pior da relativização humana. a teoria que é vendida às crianças de que o pai natal só traz prendas para as que se portaram bem é uma treta quase tão grande como a de girar tudo à volta da terra. convençam-se de uma coisa, o problema não é não existir pai natal, o problema é brincarmos todos nesta época ao jogo do faz de conta que todos são bonzinhos e merecem uma caixa de ferrero rocher. decerto que o pior dos violadores dos direitos humanos consegue construir uma pirâmide só com caixas de ferrero rocher. porque as recebe. porque dar presentes é social. faz parte do que nos é incutido desde novos, e é visto como uma pre-obrigação. quem não dá, nunca o não faz por convicção. é sempre assu

a alegoria da taberna

estávamos caídos num silêncio nu. perdidos entre o grau de um qualquer abafado que deslizou pelo tubo que serve para alimentar e o fumo intenso do tabaco perdido, antes fora mascado. nas paredes memórias antigas, esquissos de noites melhores, sinais de noites piores, palavras toscas riscadas toscamente, figuras de estilo que o eram sem o ser. pedimos mais um. e mais outro. e depois ainda mais outro. ficámos sentados no êxtase de quem vê o mundo à sua frente. vimos romanos, fenícios, vândalos, lábios, olhos, outros lábios, promessas, desastres, confidências e pecados. éramos ali, todas as noites (e algumas noites ate' chegaram a ser dias) confidentes de um mundo que ali passava. com um gesto pacífico mandávamos seguir. ouvíamos outro. e mais outro. a confissão da vida sem um castigo no retorno. sem obrigações de penitência. pelo preço de um sorriso. um dia um de nós decidiu levantar o seu corpo torpe e cambalear ate' à porta da rua. escalou os dois degraus, a porta de madeira

uma caça ao tesouro diferente

desde que o Homem e' Homem que tenta expressar o que sente através da arte. Desenhava primeiro em paredes de cavernas, com sangue de animais. ai' tenho a certeza que não era expressão artística, tão so' apenas visão de futuro e de como aquela caverna se viria a tornar desse modo um interessantíssimo polo turístico com milhares de bilhetes vendidos para la' entrar. continuou-se depois durante milhares (quais milhares, muito mais, centenas!) de anos com modos de pintar mais elaborados, e formas diferentes, quer seja esculpindo, escrevendo, compondo, quer tudo o resto. que haja muito resto. mas, de facto, a necessidade fundamental e' expressar. no fundo expressam-se a beleza, alegria, tristeza, raiva, paixão, todos os sentimentos, concentrando-se num pincel, lápis, caneta ou escopo e polvilhando de vida uma peça que se quer imortal. a conclusão e' q o Homem não consegue guardar para si próprio o que sente. felizmente. mas a beleza esta' em toda a parte e por

preciso tanto de danieis sa' nogueiras como de um pontape' no escroto

leio no i que aparentemente portugal tem um novo guru. da' pelo nome de 'daniel sa' nogueira' e encheu recentemente o pavilhão atlântico com oito mil pessoas para uma 'palestra espectáculo' sobre crescimento pessoal. o michael buble' e o tony carreira também o fizeram, mas dispensaram a parte da palestra e passaram logo ao espectáculo. pelo menos o michael buble'. crescimento pessoal. por onde começar? ... ... ... ... ... ... ok, para eu saber como ser melhor e mais realizado, pessoal e profissionalmente, parece ser suposto enveredar pelo caminho do 'personal coaching', tendo uma espécie de treinador da minha personalidade... erro! podem ler 'o segredo'. podem ler 'a profecia celestina'. podem ler o que quiserem. esses livros têm magia. eu sei, ja' li alguns e e' um facto. mas a magia que la' vem e' so' uma: a prova de que vocês próprios podem construir o vosso sucesso por vocês mesmos. não precisam de t

NYC, a extensão filosófica do meu eu físico

Ha' cidades que não aquecem nem arrefecem. Ha' cidades boas. Ha' cidades óptimas, verdadeiramente fantásticas. E depois ha' Nova Iorque. Num patamar distinto. Uma epifania do ser a cada momento, a cada olhar, a cada passo, a cada movimento respiratório. Mesmo a Nova Iorque turística e' uma bela cidade, capaz de encantar novos e velhos, judeus e muçulmanos, fanáticos religiosos e ateus. Mas a verdadeira cidade esconde-se atrás dos autocarros vermelhos de dois andares, que apregoam mostrar a essência de ny em quatro ou cinco horas. Perco-me na minha cidade, e descubro-me perdendo-me. Poucas coisas me dão tanta paz como sentar-me em brooklyn a olhar o skyline do outro lado do rio. O east river corre com pressa, muita pressa. Pressa de quem quer passar pela cidade onde tudo acontece e rapidamente chegar ao mar. A pressa de milhões de gotículas de água que pensam não aguentar a pressão desta cidade. Pressão essa que e' constante. Ninguém fica indiferente. Para la&

A vida e' uma pizza quatro queijos

Primeiro que tudo um disclosure: eu adoro queijo. Quem me conhece sabe que gosto tanto de queijo que invariavelmente a minha escolha recai, mesmo em vastos menus, sobre a pizza quatro queijos. Que nunca tem quatro. Transformo-a sempre em cinco, com reforço de parmesão on-the-top. A vida não deixa de ser como uma pizza quatro queijos. De base temos a nossa personalidade, pode ser o mozzarella ralado e o molho de tomate. Juntamos a nossa família, que e' uma espécie de emmenthal, que une os ingredientes de base. Não me esqueci da massa, respeito a massa, claro. Mas a massa e' aquilo em que nascemos, a casa, os vários mundos, os olhares trocados que contam e não contam ao mesmo tempo. Os amigos vêm como um provolone, que reforça um sabor especial, que se destaca no meio de um festival de textura e sabor. Os amores definem a pizza. Umas vezes danish blue, outras vezes roquefort, eventualmente gorgonzola, chévre ou rodelas de queijo fumado. Variam, apaixonam, encantam, podem adorar

Metamorfose

As crianças têm uma felicidade muito mais natural. Quando crescemos, a nossa felicidade deixa de ser ingénua e genuína e passa a ser pensada, construída, e muitas vezes falsa. Convencemo-nos que certas coisas nos fazem felizes. Enganamos o mais profundo do nosso ser e do nosso pensar, e nem descobrimos que o que nos faz realmente felizes e' aquela gargalhada súbita, que sai não sabemos bem como, não sabemos bem porquê. Estando bem entre amigos, como estando bem entre amores, sabemos que nada mais à volta interessa, mas isso era o que sentíamos muito mais frequentemente quando éramos crianças. Eu imaginava que 'quando fosse grande' queria ter uma piscina exclusivamente cheia de leite creme. Teria empregados sempre a confirmar a temperatura e textura do leite creme, para que, quando me apetecesse, eu mergulhasse nesse éden gastronómico, em direcção a pirolitos de prazer. Ate' podiam ir amigos à piscina. Seria grande e dava para todos. No fim nem precisávamos de toalhas e

Tempo

Não fujas. Temos tempo. O sol ainda vai alto. Vês como faz sombras com os teus cabelos? Ficam pequenos caminhos espalhados na areia, que não sabem bem a quem pertencem. Nada na areia sabe bem a quem pertence. É umas vezes do mar. Outras vezes da terra. Outra vez da família que traz frango assado com batatas fritas pala-pala. Do casal de namorados que se oscula enquanto o dia cai. Do solitário que olha o horizonte em busca da fuga para a solidão. Uma gaivota. Não há tempestade no mar. Que raio faz este bicho em terra? Há tempestade talvez nas nossas almas, no vórtice de alegria, felicidade e medo do que vem. Mas no mar nada. A calma de um fim de tarde perfeito, com a brisa que lembra o que move o mundo, as estações, os projectos, os sonhos, o futuro. Não sei ver horas. Sei contar quantas vezes o sol se põe e aparece de novo. Sei que vem do Japão. Sei que vai para Nova Iorque. O número de vezes que ele vem do Japão e que vai para Nova Iorque diz-me quantos dias passaram. O resto não me i
Já dizia Max Ehrmann "listen to the others, even the dull and the ignorant. they too have their story". A azáfama da consulta permite pouco tempo para fugir ao acelerar da burocracia e da conversa puramente médica, deixando pouco espaço no tempo para conversas paralelas. A entrada em conversas paralelas cria-nos injustamente um nervoso miudinho por atrasar toda uma lista de doentes, que se vão revoltar. Entre muitas outras coisas, tira-nos tempo para aproveitar o facto de falar com centenas de pessoas diferentes, o que permitiria aprender coisas novas a toda a hora. Exemplo de histórias de vida que mereciam mais dar um filme do que muitas que são forçadas como argumentos de Hollywood. (bolas, esta senhora não se cala... e tudo são problemas, dói-lhe tudo, queixa-se de tudo, podia ser uma daquelas 'velhinhas' do sketch do gato fedorento, eheheh) - E agora ando muito mais em baixo, Dr. - Então porquê dona L? - Porque morreu o meu cachorro, que era a minha companhia. - E

Noite

Suaves ruídos. Um choque de roda com milhões de partículas de água numa poça que teima em não desaparecer da estrada. O motor afastado e esquecido de um avião que já leva na cabeça o destino final. Passos apressados de quem sabe para onde vai e o pouco tempo que tem. A noite traz o silêncio. Com o silêncio da noite vem todo um novo mundo de sensações. Não há ruídos. Não há distracções. A adoração da noite tem a ver com isto. Com o contraste. Há uma espécie de paragem durante a noite. Pequenos oásis de som, espalhados aqui e ali, perpetuam o som num volume bem alto, para compensar pelo resto da noite. Nesses oásis juntam-se adoradores do som. Fazem hoje com o som o que no passado já alguns fizeram com o sol. Cá fora o som do silêncio permanece. Consigo ouvir o camião do lixo, que se aproxima. Vem sempre. Não falha. Se um dia não vier a esta hora sei que algo se passou. Problema na central. Fim de todo o lixo no mundo. Algo se terá passado. O dia tem a verve da loucura, partilha e alegri

Diário de Bordo

Excerto do meu moleskine, 11 de Setembro de 2009, Deserto de Gobi, Mongólia, escrito exactamente no momento captado na foto: "Estranho. O destino faz este dia chegar nalguns dos mais belos locais do mundo. Há 8 anos (dilacerante o modo como o tempo passa por nós...) estava sentado num banco junto ao fabuloso mar de Oahu, e agora estou sentado num banco com gigantescas dunas de areia do deserto mongol aqui mesmo à minha frente. O que mudou em 8 anos? Eu mudei muito, o mundo infelizmente mudou pouco. Parto à descoberta das dunas próximo do pôr-do-sol. 15 minutos depois depara-se um primeiro obstáculo, um pequeno rio, de pouco caudal, mas pouco apetecível de atravessar, por ser lamacento. Eis que do nada aparece um jipe com um casal mongol, aos quais berrámos para parar e conseguimos boleia para atravessar o rio e ir até à orla das dunas. Claro que fomos no meio das couves e peças de automóvel, mas ficou registada a habitual boa vontade mongol. Trepei pela areia pura, lisa, sem marca