Avançar para o conteúdo principal

NYC, a extensão filosófica do meu eu físico

Ha' cidades que não aquecem nem arrefecem. Ha' cidades boas. Ha' cidades óptimas, verdadeiramente fantásticas. E depois ha' Nova Iorque. Num patamar distinto. Uma epifania do ser a cada momento, a cada olhar, a cada passo, a cada movimento respiratório.

Mesmo a Nova Iorque turística e' uma bela cidade, capaz de encantar novos e velhos, judeus e muçulmanos, fanáticos religiosos e ateus. Mas a verdadeira cidade esconde-se atrás dos autocarros vermelhos de dois andares, que apregoam mostrar a essência de ny em quatro ou cinco horas.

Perco-me na minha cidade, e descubro-me perdendo-me. Poucas coisas me dão tanta paz como sentar-me em brooklyn a olhar o skyline do outro lado do rio. O east river corre com pressa, muita pressa. Pressa de quem quer passar pela cidade onde tudo acontece e rapidamente chegar ao mar. A pressa de milhões de gotículas de água que pensam não aguentar a pressão desta cidade. Pressão essa que e' constante. Ninguém fica indiferente.

Para la' da vertiginosa velocidade de vida da cidade, sentado no meu banco consigo olhar a calma que me envolve. Como tudo flui numa calma apressada. Dois namorados sentados partilham histórias, amores, com um pano de fundo que faz inveja a muito cineasta. Uma modelo despe-se de preconceitos enquanto e' fotografada para um novo catálogo de roupa interior. Sinto-me quase impelido a avisar os produtores dessa sessão que e' um risco tirar fotografias ali, as pessoas não se vão concentrar a cem por cento no produto a vender.

E ando. Caminho sem parar. Entro aqui, entro ali. Corro a High Line de cima a baixo, de baixo a cima. Petisco no Pastis, entro na Little Marc Jacobs. Paro quatro, cinco, seis horas na loja de vinis que se esconde do bulício dos cafés da St. Marks Place. Meia dúzia de 'nós' passam ali estas horas, a correr disco atrás de disco, a descobrir o que era a 'pacatez' inicial do Joey Negro ou a relíquia redonda dos Stardust. E saio, ando mais, entro no cafe', procuro o jardim nas traseiras, sento-me a ler e peço um copo de um Chardonnay. Como e' bom misturar os prazeres todos nos mesmos momentos... acho que fomos programados para ser assim.

A vertigem não me assusta. Antes, puxa por mim.

Desoriginalizando, 'new york, i love you'.


(picture by me)

Comentários

Mensagens populares deste blogue

À terceira é de vez!!!

Como tenho muita lata... este post é na linha de dois recentes... (um deles mesmo recentíssimo, o meu último) e trata da adaptação, não de séries (porque somos muito oranginais por estas bandas e isso depois na verdade tornar-se-ia repetitivo... quer dizer... até parece que assim não...), mas sim de filmes estrangeiros, para português. São novidades muito secretas e portanto só espero que tenham bastante cuidado na divulgação das mesmas (ao dizer isto espero que as publicitem, bem como a vinda aqui ao meu "little corner", numa jogada minha à laia d'"o fruto proibido é o mais desejado"). - Tó Pegane : história de um filho de uma ex-emigrante "na França" (daí a sempre típica mescla do nome António com o Pegane do francês com quem a senhora se casou). O rapaz entra para a Força Aérea, e depois há para lá umas intrigas. Ah! Na cena mais espectacular do filme, Tó Pegan faz um cozido à portuguesa, utilizando para aquecimento dos ingredientes a barriga...

pedras

acho muito simpático da parte do fernando guardar todas as pedras do caminho para um dia construir um castelo, mas aqueles de nós que as têm nos rins apreciavam outro tipo de eficácia diferente de apenas contemplá-las durante o passeio diário para abater barriga. com tanto heterónimo ao barulho, pasmo-me que o fernando, pessoa de bem, não tenha dado vida a um ente que se tornasse urologista e arranjasse maneira de ajudar a prevenir várias noites em posição fetal a namorar com o chão frio da casa de banho. diz o povo que as cólicas renais são piores que as dores de parto, mas o povo não pensa no facto de quase metade da população não poder atestar essa comparação. é provável que seja o povo feminino, e esse sim pode saber das duas, como sabe de tudo o resto, sempre em demasia, que o conhecimento verteu todo para o segundo cromossoma x. enquanto um brufen beija um ben-u-ron e abraça outro, vou continuar aqui no meu canto, meio revoltado com o fernando, enquanto pesquiso qual o valor da p...

na moda

Está na moda escrever sobre o amor. O truque é pintar o dito de lugares comuns e adornar o produto final com duas ou três asneiras das pesadas para emanar pseudo-rebeldia. O conjunto de palavras é tão bonito e tem uma força tão positiva que o que está mesmo a pedir é para ser posto num rectângulo, acompanhado de uma imagem do pôr-do-sol/paisagem verdejante/gatinhos/silhueta de um ou dois corpos (riscar o que não interessa) e feito, está pronto a sair do forno para esse sufrágio universal que são as redes sociais. Está na moda gostar dessa visão do amor. Que tenta copiar alguns traços dos mestres mas que os copia mal e porcamente, borra a tinta toda, mas encontra destinatários com a visão tão baça que nem dão por isso. Dantes havia o condão de ficar preso às letras do Shakespeare, do James, do Cummings e de tantos outros. Todos eles vieram por aí fora, ainda há bem pouco tempo dava para jogar à macaca com o Cortázar, mas está tudo a trocar a macaca por meia dúzia de macacos, que ap...