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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2014

o homem que olhou para cima

seguiu pela avenida, mastigado pela multidão, avançando num passo certo e rítmico na direcção do seu trabalho. o ano era várias centenas de anos à frente do ano que se pensa que era. havia algo que hoje o inquietava. tinha lido na noite anterior um livro electrónico em que os autores falavam de grupos de pessoas, no passado, que se juntavam à noite, num lugar com pouca luz, para olhar para o céu e ver as estrelas e um ou outro planeta. segundo o relato eles olhavam directamente para o céu e isso deixou-o estupefacto. ninguém sabia dizer quando, mas a coluna cervical dos seres humanos tinha evoluído já há muitos anos para uma posição que apenas lhes permitia olhar na direcção do chão e ligeiramente em frente. se se tentassem deitar de costas, ou olhar para cima, perdiam automaticamente os sentidos, por compressão da espinal medula. o pescoço tinha evoluído neste sentido após anos e anos de indivíduos que passavam dezasseis a vinte horas do seu dia a olhar em frente, ou para baixo,

são tudo perspectivas

' i try to lead as normal a life as possible, and not think about my condition, or regret the things it prevents me from doing, which are not that many . physics can take one beyond one’s limitations, like any other mental activity . the human race is so puny compared to the universe that being disabled is not of much cosmic significance . ' - stephen hawking

erro padrão

o erro padrão é o desvio padrão da distribuição de amostragem de uma estatística. o padrão dá para muita coisa, desde comemorar descobrimentos até descrever o aspecto de uma camisa ou de umas cortinas. o erro dá ainda para mais. quando somos tão crianças que nem nos lembramos, o nosso processo de aprendizagem mexe-se à base de tentativa/erro. descobrimos que pôr a mão em algo que está a ferver dói, que a água fria não é a melhor coisa do mundo num dia de inverno e que nos reconforta estar ao colo de um ser humano com várias vezes o nosso tamanho. vida fora vamos definindo padrões. vida fora vamos ainda mais explorando o erro. deixamos de o ver como uma ferramenta para crescer e passamos a penalizá-lo e a demonizá-lo. perdemos a inocência crua de quem reage e ganhamos a capacidade de complicar e sobrepensar todos os erros. elevamos a fasquia mais alto do que o recordista mundial de salto em altura e não toleramos a falha, não nos damos nada bem quando descobrimos que pôr o

eu sei

eu ia a correr floresta fora quando senti o vento vir floresta dentro. as árvores entraram em tumulto, as folhas começaram a revirar-se, os troncos a lutar para ficar junto ao chão e o céu ficou escuro como breu. veio uma nuvem, depois outra, encavalitaram-se entre si e começaram a descarregar electricidade como se fossem uma central energética. os raios caíram por todos os lados, a vida parecia um jogo de plataformas para game boy em que de repente me tinha tornado na personagem e o criador do jogo em sádico controlador do meu destino. corri até ao que vi de mais parecido com um abrigo, uma gruta com pouca luz. entrei nessa gruta e senti um conforto que o freud explicaria em três tempos. explica-me muito o freud, sempre que tomamos café sexta sim, sexta não. não explica tudo, mas apenas porque percebe pouco de bola. a gruta protegeu-me nas horas seguintes. o mundo lá fora mudou sete vezes e na minha face o sorriso de conforto passou a riso sardónico de vitória. foi nessa altu