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Mensagens

A mostrar mensagens de 2009

Uma questão de nível

Longe vão os tempos em que a expressão "comida de hospital" era associada a algo de insonso, com sabor a nada e textura de papas de aveia (embora nas cantinas hospitalares pareça que é isso que continuam a servir). Através do recrutamento de uma equipa de nutricionistas qualificados, hoje os doentes têm à sua disposição pratos equilibrados do ponto de vista nutricional, adequados à sua doença, mas ao mesmo tempo com características que tornem a refeição agradável (e não apenas tolerável). Onde surge o problema é quando lhes é dada escolha sobre o que querem para o dia seguinte. Certamente plenos da melhor boa vontade, os responsáveis das empresas de alimentação dão os nomes mais pomposos aos pratos que servem e é frequente ver os nossos idosos terem um pré-colapso a tentar perceber o que é que os nomes significam. Exemplo: "Senhor Manel, para o jantar, de sobremesa, vai querer melão ou bavaroise de morango?" "O que é que disse a seguir ao melão?" "Bav

Serão artroses?

Outra vez seis meses sem escrever? Acabou-se o combustível? Falta de criatividade? Dispersão? Falta de tempo? Ou serão artroses? Não tenho idade para artroses. Há quem as tenha com esta idade, mas eu não tenho idade para as ter e não tenho. Ponto final. Parágrafo. Ando embrenhado. Por caminhos intensivos. Por medicinas públicas e menos públicas. Cuidadas e menos cuidadas. O tempo é pouco. A bem ver são as mesmas vinte e quatro horas. Os mesmos mil quatrocentos e quarenta minutos. Aproxima-se o novo ano, altura de resoluções. Quebra. Não gosto de paradigmas. Faço já uma das minhas: vou voltar a tentar e escrever mais. Não se perde nada. Ganha-se em desabafo. Ganha-se em desafio. Escrever faz-me bem. Até já.

Som

A minha relação com o som? Quem me conhece sabe que gosto de falar. Muito. Gosto de ouvir. Muito. Sou capaz de estar 20 horas a falar. Seria um óptimo amigo para o Fidel Castro (até pelo estado de saúde dele...) ou para o Boutros-Ghali, especialistas de discursos de 20 e tal horas nas suas funções políticas. O som tem um papel fundamental. Tem restrições. Tem controlo. Usá-lo ou não usá-lo define a nossa vida. O que se disse. O que não se disse. O que se disse e não se devia ter dito. O que não se disse e se devia ter dito. Gosto do som. Uma destas noites dei por mim, na enfermaria, a reparar num silêncio absoluto. Apeteceu-me de repente quebrar com a regra. Ter à mão uma buzina de camião e dispará-la loucamente durante 30 segundos. Acordar tudo e todos em sobressalto, mostrar-lhes que precisam do som. Que têm de respeitar o som. Que o som é bom. No dia seguinte... Gui Boratto no Lux. Até que enfim alguém me percebe e trata o som como ele deve realmente ser tratado! Brilhante!

Lisboa menina e moça, festeira!

Já dizia a letra da música: "Cansados vão os corpos para casa Dos ritmos imitados de outra dança A noite finge ser... ainda uma criança De olhos na lua Com a sua Cegueira da razão e do desejo" Lisboa é isso. É isso e muito mais. A noite do dia 12 de Junho é apenas um corolário do que Lisboa pode ser. Do que Lisboa devia ser mais vezes ao ano. A sardinha assa no braseiro. Nisto a criança pede uma moedinha para o Santo António ("Não tenho moedas""Não faz mal, eu aceito notas"). O traquina que descaradamente se aproveita desta noite para ser uma espécie de "arrumador" das almas, cruza-se com o nórdico que olha espantado para todo este movimento, para toda esta côr, para este bulício e vontade de viver, que o fazem acreditar que este povo pode ser pobre, pode ser melancólico, mas que tem a capacidade de se mobilizar em massa para a rua e encher de alegria a noite de uma cidade. Pára naquela janela. Pede uma ginjinha. Quem ta serve? Um argentino? Que

Novo dentista, novos temores

Vou dentro de minutos a um novo dentista. Desde pequeno que sou um fiel participante do grupo de pessoas que têm semi-pânico do dentista. Para começar, o facto de ter de abrir a boca em extensão máxima durante vários minutos é logo para o desagradável. De seguida somos submetidos a uma espécie de tortura (é pelo menos isso que me parece) com a utilização de instrumentos que parecem saídos de uma caixa de ferramentas do Ikea, ou pior, de um estojo inquisitório da Idade Média. Daí para a frente é sempre a piorar. A picada da anestesia é desagradável. O sabor dos produtos é estranho. A força das brocas faz-me acreditar que em breve terei um túnel escavado encéfalo dentro, ou no mínimo uma vista vazada. E para terminar, no caso de termos sido anestesiados, a felicidade de terminar a visita ao dentista é prontamente estragada pelo deprimente facto de nos estarmos a babar por um dos cantos da boca. Assim... não há dignidade. Figas preparadas. Aí vou eu!

Horários

Negócio. Está difícil. Quem tem um negócio queixa-se muito que "está difícil". Ou pela crise, ou pela competitividade, todos acham que é cada vez mais complicado triunfar num negócio. Mas onde começarão os erros? Exemplo: ontem fui a três bares na zona de Santos, sendo que todos tinham um traço em comum - fechavam às duas. A um Sábado à noite. Está certo que os horários existem para ser estabelecidos, mas uma postura destas é quase igual a um restaurante que fecha para almoços e jantares. Nisto faz-nos falta atravessar a fronteira e ver o que é a noite dos nossos vizinhos espanhóis. Famílias inteiras invadem a noite madrileña, preenchendo a Latina, e fica tudo aberto noite fora. Até pequenos supermercados e outro tipo de comércio prolongam os seus horários para ganhar com isto. Por cá: vamos fechar, vai tudo dormir.

Mas afinal? Tu queres ver?

Coisas que aprendemos com os reformados dos jardins lisboetas: quando não se tem tema de conversa sobre o que é que se fala? Sobre o tempo, pois claro está. Não a dimensão inexorável de medida, mas sim a meteorologia. E, portanto, lembrei-me hoje de comentar este tempo "nojentinho" que por aí anda. Tão depressa parece que afinal já é Verão, como vem um vento frio de cortar a respiração. E então não há roupa certa. Por isso se vêem desde pessoas encasacadas a malta quase em tronco nu. O que é parvo. E pouco digno.

De noite tudo se passa

Com a minha longa paragem na escrita não tive ainda oportunidade de comentar esses expoentes máximos do enchimento de chouriços que são os concursos telefónicos da madrugada. SIC e TVI degladiam-se para tirar o máximo de roupa possível a uma apresentadora (que tem como critério obrigatório de selecção ter aparecido na capa de uma revista masculina) e dessa forma levar os "toinos" e "toinas" que acreditam no Pai Natal a gastar uma pipa de massa em chamadas de valor acrescentado para tentar ganhar 300 ou 400€. Os temas vão variando, embora tenham sempre um traço em comum: a estupidez. Quando os participantes têm de descobrir coisas como "Josés famosos" penso que está tudo dito. A única solução para eu ultrapassar isto é passar a deitar-me mais cedo. Assim, mesmo que depois acorde às 4 ou 5 da manhã, sempre me divirto a ver o TV Shop, que é bem mais enriquecedor do ponto de vista cultural.

Eu sou o Bob, o construtor!

Passei uma infância a achar que não tinha jeito para trabalhos manuais. Passei uma adolescência a achar que não tinha jeito para trabalhos manuais. Passei um início de jovem adulto a achar que não tinha jeito para trabalhos manuais. Percebi finalmente que o jeito não se tem, aprende-se. Lancei-me num desafio hercúleo de montar sozinho um móvel de sala de 2m por 1m (é um dos jovens altos que podem ser observados na fotografia). E não é que ficou direito? Não é que até o raio das portas ficaram ao mesmo nível e não arrastam por sítio nenhum? Quando acabei senti-me verdadeiramente um Bob, o construtor. Ou pelo menos alguém com capacidade de unir peças e gerar um móvel (não é gerar vida, mas já é um primeiro passo). O melhor disto tudo é que poupei 70 Euros de montagem, e consegui fazê-lo martelando nos sítios certos e saindo com os dedos intactos.

Até arranhar a fita

Na brilhante série "How I Met Your Mother", há um episódio em que o Marshall tem de se despedir do seu velho carro. Nesse episódio recorda os bons momentos passados na viatura e ficamos a saber que há vários anos tem encravada no leitor de cassetes uma cassete dos Proclaimers, onde tinha gravado apenas a música "Im gonna be (500 miles)". Lembrei-me de perguntar a mim próprio que cassete eu gostaria de ter posto no leitor de cassetes (se tivesse um e se ele encravasse). A escolha pareceu-me óbvia. Ia recair sem dúvida em "Bohemian Rhapsody" dos Queen. Na, qualquer dia longínqua, década de 90, nas férias de Verão em Sesimbra, passava as tardes a gastar o meu Walkman com o terceiro "Greatest Hits" dos Queen. Invariavelmente enchia de "rewinds" o fim de Bohemian Rhapsody. Ao ponto de a entrada de "Another One Bites the Dust" se ter tornado quase inaudível com o passar do tempo, ao ser substituído por um arranhar semelhante ao pass

You never get tired of...

Da família amarela que nunca cansa, hoje na FOX: Bart cai, vai ao hospital e de repente o Dr. Hibbert desfibrilha as nádegas de Bart. Segue-se: Marge: Why are you doing that? Hibbert: Oh, it's good for the batteries. Now, I'm afraid your son has cracked his coccyx. Brilhante...

Home-made pizza

Sou o fã mundial número um de pizza quatro queijos. Acredito que existam outros admiradores que lutem com igual intensidade por uma 4Q (vamos chamá-la assim, carinhosamente, como se fosse um modelo de automóvel), mas lutar mais do que eu... tenho cá para mim que é impossível. Como quatro-queijista experiente, venho levantar um dos grandes problemas para os quatro-queijistas: os queijos escolhidos. Raramente, se alguma vez, conseguem as pizzerias acertar nos quatro queijos favoritos do quatro-queijista. Como forma de protesto a essa situação, vou pôr a minha Bimby a tratar da massa e depois vou ganhar respeito a mim próprio com uma combinação fatal: mozzarella, parmeggiano, gorgonzola, roquefort e chévre. Espera... São cinco queijos? E o que é que isso me interessa? Não vou vender para fora.

Bip

Fiquei tão contente! Tinha os meus 15/16 anos, o telemóvel ainda era algo em fase experimental, e o que estava na moda eram os bips. Vi um concurso numa revista ao qual concorri prontamente: era para escrever uma frase sobre bips. Havia um como prémio. Como a pior das fashion-victims que sou, logo concorri, e passadas umas semanas recebo a agradável notícia de que era o vencedor do passatempo. A minha alegria foi temporária... Afinal o bip não servia para grande coisa. Permitiu-me estar no topo da moda, e receber regularmente linhas com notícias sobre o desporto ou o tempo, mas não me ajudou muito nem a ser melhor pessoa nem a coisa nenhuma. A moda do bip passou rápido, cilindrada pelo telemóvel (nos primeiros tempos quase literalmente, com o tamanho de tijolo que estes últimos tinham). Nunca mais ouvi falar de bips. Até agora. Voltei a ter um. E este não o pedi. Obrigam-me a usá-lo e é a minha companhia no hospital. Não me dá notícias, nem o tempo, nem o resultado do Benfica. Quando

Sopa

Dizem que a sopa foi inventada provavelmente há mais de 8000 anos, a partir do momento em que foram inventados recipientes à prova de água, feitos de barro. Permitam-me duvidar disso. Acho que a sopa consegue ser mais básica do que isso, e provavelmente já os répteis faziam um gaspacho em três tempos, muitos anos antes. De facto, juntar legumes, cozê-los, e a seguir triturá-los, não tem grande ciência. Já juntar as quantidades certas tem o seu quê de entendido, mas para os pré-históricos qualquer coisa serviria (até porque não lhes tentavam impingir sopas pré-feitas da Knorr). A sopa agrada ainda a ambos os sexos. Escolher legumes no supermercado é pouco másculo, mas aplicar uns golpes ou "estrafegar" com uma varinha mágica são coisas para gente de barba rija (não querendo eu ferir a susceptibilidade de senhoras que andem sem tempo para a depilação). Paz à sopa... lá vou eu comprar os legumes...

Escrever

Porque motivo alguém escreve num blog? Será para escrever piadas e esperar que alguém se ria? Será por acreditar que, partilhando com o mundo o que escreve, se sente maior? Será para sentir interiormente que as suas opiniões e pontos de vista são lidos por todos? Provavelmente sim e não. Provavelmente a maior parte das pessoas que se dedica a escrever num blog tem a mesma intenção que tantos outros tiveram ao longo da história da Humanidade, ou seja, transformar em palavras algo que sente. É por esse motivo que nem é assim tão importante ser lido. Se alguém ler o que escrevemos, obtemos reconhecimento (mais não seja pelo tempo dispendido a apreciar algo produzido por nós), mas o nosso objectivo final é sempre egoísta, é o de aliviar a pressão de pensar em algo e ter de o dizer. Acho, por isso, que a escrita é um escape, seja ela de que tipo for. Eça com certeza teria vontade de criticar muito mais abertamente a sociedade numa conversa de café. E talvez até o tenha feito. Mas nunca cons

Cheiros

Todos os sentidos do corpo humano têm a sua beleza. Mas o olfacto tem um jeito especial de moldar o mundo. Andando numa cidade como Lisboa, pela manhã, somos chamados para centenas de odores diferentes que povoam o ar de modo disfarçado e envergonhado. Desde o café de máquina que sai por aquela porta, ao perfume barato da reformada esforçada por tudo pagar com a renda, ao "espirrável" pólen, à borracha que ficou de uma travagem, a água que ficou de uma lavagem, a terra que foi remexida e viu chover-lhe em cima... Tudo ali fica, tudo ali aparece, e tudo se mistura, como que numa varinha mágica de perfumes e faz aquilo a que podemos chamar "o cheiro a Lisboa". E afinal, não diz até a canção que esse é um bom cheiro?