Avançar para o conteúdo principal

ondas

o som das frestas meio abertas nunca me impressionou grande coisa. cheirava a pôr-do-sol e às ondas dos teus cabelos, enquanto as outras ondas saíam da rádio e o maurice chevalier cantava sobre rouxinóis e o amor. depois continuava num tom mais lento a falar sobre o mesmo tema. os rouxinóis esvoaçavam pela luz ténue e ríamos de alegria ao lembrar o dia em que a televisão voou janela fora e o tempo entrou feito tornado janela dentro.

baptizámos o barco com a garrafa de veuve, sem acelerar o passo, a ver as nuvens esperar pacientemente. lembras-te como as nuvens se vão juntando a pouco e pouco, fingindo que são formigas num carreiro, meio confusas sobre a altura certa para atirar baldes de água cá para baixo?

já longe da costa, perto do nada, mas como quem vai a sair para o tudo, ficámos a ver chover e atirámos os remos na direcção da água. decidimos que o acaso ia decidir onde o barco ia parar, adorávamos fazer de conta que éramos uma gigante mensagem-numa-garrafa. que fazia sentido desafiar o tempo e esperar oitenta anos ali sentados de mãos dadas, a imaginar o ontem, a tropeçar no hoje e a rir sobre o amanhã.

parou de chover, mas não parámos de sorrir. vimos juntos nuvem a nuvem pegar no seu balde, pôr o chapéu de côco na cabeça e ir embora com um ar rezingão. é tão bom quando se aquece mais de dentro para fora do que de fora para dentro e há tão pouco quem.

Comentários

mega disse…
Muito bom Jotapê.
Se um dia te cansares de "brincar" com corações em peitos abertos podes optar sempre por escrever e abrir peitos para chegar a corações.
Estás garantido. Parabéns, pá!! Abraço.

Mensagens populares deste blogue

À terceira é de vez!!!

Como tenho muita lata... este post é na linha de dois recentes... (um deles mesmo recentíssimo, o meu último) e trata da adaptação, não de séries (porque somos muito oranginais por estas bandas e isso depois na verdade tornar-se-ia repetitivo... quer dizer... até parece que assim não...), mas sim de filmes estrangeiros, para português. São novidades muito secretas e portanto só espero que tenham bastante cuidado na divulgação das mesmas (ao dizer isto espero que as publicitem, bem como a vinda aqui ao meu "little corner", numa jogada minha à laia d'"o fruto proibido é o mais desejado"). - Tó Pegane : história de um filho de uma ex-emigrante "na França" (daí a sempre típica mescla do nome António com o Pegane do francês com quem a senhora se casou). O rapaz entra para a Força Aérea, e depois há para lá umas intrigas. Ah! Na cena mais espectacular do filme, Tó Pegan faz um cozido à portuguesa, utilizando para aquecimento dos ingredientes a barriga

na moda

Está na moda escrever sobre o amor. O truque é pintar o dito de lugares comuns e adornar o produto final com duas ou três asneiras das pesadas para emanar pseudo-rebeldia. O conjunto de palavras é tão bonito e tem uma força tão positiva que o que está mesmo a pedir é para ser posto num rectângulo, acompanhado de uma imagem do pôr-do-sol/paisagem verdejante/gatinhos/silhueta de um ou dois corpos (riscar o que não interessa) e feito, está pronto a sair do forno para esse sufrágio universal que são as redes sociais. Está na moda gostar dessa visão do amor. Que tenta copiar alguns traços dos mestres mas que os copia mal e porcamente, borra a tinta toda, mas encontra destinatários com a visão tão baça que nem dão por isso. Dantes havia o condão de ficar preso às letras do Shakespeare, do James, do Cummings e de tantos outros. Todos eles vieram por aí fora, ainda há bem pouco tempo dava para jogar à macaca com o Cortázar, mas está tudo a trocar a macaca por meia dúzia de macacos, que ap

E se o X quer ser cá da malta...

Flagelo dos tempos modernos! Qualquer jantar de universitários ou pré-universitários ou pré-pré-univ... já perceberam a ideia, não é? A dado momento desata tudo, qual pintassilgo colectivo, a cantar: "E seeeee o X quer ser cá da maaaalta, tem de bebeeeer esseeee copoooo até ao fim, até ao fiiiiiiimmmm!" Meus amigos... o que é isto? Será que cada jantar desses é uma reunião de futuros "liverless" (os Sem-Fígado em português)? É que eu até adoro sangria, mas quando começo a ouvir tais cânticos... parece que tenho vontade de chorar... Quem quer ser cá da malta? Qual malta? A malta que, a meio do jantar, só sabe olhar seja para quem for e dizer: "Iccc... Eu... iccc... acho... iiicc... que tu, pá.... iccc... és mesmo porreiiii(c)ro....". E depois quem não bebe... fica com a vida arruinada. Sempre que for a passar na rua, vai apanhar do ar palavras como..."Lá vai aquele! Não sabes??? Ele não bebe..iihihihihihi!!!" Enfim, já era tempo de a