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morte à simetria. lenta, por favor.



escrevo com a pena que se transformou em caneta que se transformou em dedos que carregam em teclas.

escrevo com a sensação de quem flutua por cima de um mundo maior, feito de beleza e de desequilíbrio. tomara o dia em que se assuma que a simetria é o expoente máximo do pior que o homem consegue criar. a natureza prova isso das melhores formas. não há simetria que quando mudada de escala não seja assimétrica. a definição nasce precisamente da assimetria.

percebo a paixão por linhas direitas. é o mesmo conforto de achar que está alguém num pedestal num edifício de pedra, que olha por vocês, e que corrige os vossos erros, vos apara os erros e vos aplaude as virtudes. mas as linhas direitas são nauseantes. as linhas direitas estão sempre a pedir para levar com aquela borrachinha do paint brush, que eu uso mentalmente para apagar o que não gosto.

para mim, tudo o que me apaixona é assimétrico. até o wassily, com a sua mestria, pegou em formas geométricas e baralhou-as como quem atira os dados para cima de uma mesa. aqueles que se dedicaram a desenhar senhoras direitas e com chapéus de plumas ou desinteressantes maçãs dentro de um prato, tenho para mim que um dia se vão afundar no pântano do esquecimento, numa espécie de sismo global que tudo mudará.

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