Avançar para o conteúdo principal

o mundo como ele é

no dia 10 de setembro de 2001 lembro-me de um momento preciso em que pensei como o mundo era quase perfeito. tinha acabado de sair da água magicamente aquecida do oceano pacífico e estava então sentado entre duas palmeiras, a olhar o horizonte, onde peixes saltavam na água, e a constatar a felicidade que a própria pele sente nestas situações, em que as pedras de sal desenham novos mapas pelo corpo e dão outro sabor ao dia.


poucas horas depois fui visceralmente lembrado de que esse planeta quase perfeito existe, mas existia sobretudo antes da evolução humana. se, por um lado, sem evolução humana, eu não existiria e não teria os meios para chegar ao outro lado do mundo, por outro lado, os milhares e milhares de anos de acumulação de ambição desmedida, egoísmo, fanatismo e todos os ismos que vos possam ocorrer, levam o homem (devia vir com h grande, mas há dias em que não o merece) a cometer os actos diários de terrorismo que comete.


o de 11 de setembro de 2001 tocou-me particularmente. porque atacou a minha cidade do coração. porque destruiu um local no topo do qual tinha estado dois anos antes. porque, sobretudo, arrancou a vida a milhares de inocentes, perdidos na linha da vida por um mero acaso ou apenas inocentes que tentavam ajudar outros inocentes em perigo.


não nos enganemos contudo. o mediatismo deste ataque de seres humanos contra seres humanos é superior. mas os actos de terrorismo são diários. a cada dia que passa contribuímos globalmente para diminuir o número de dias que nos restam. a escalada da falta de solidariedade e da falta de respeito pelo outro tem essa consequência.


há precisamente 2 anos atrás escrevi as seguintes palavras:


" estranho. o destino faz este dia chegar nalguns dos mais belos locais do mundo. há 8 anos (dilacerante o modo como o tempo passa por nós...) estava sentado num banco junto ao fabuloso mar de oahu, e agora estou sentado num banco com gigantescas dunas de areia do deserto mongol aqui mesmo à minha frente. o que mudou em 8 anos? eu mudei muito, o mundo infelizmente mudou pouco. "


infelizmente acho que isto vai ser aplicável substituindo 8 por 80. faz-nos falta conhecer o mundo. ver que as fronteiras estão na nossa cabeça e não no terreno. que o coração humano traz sempre agarrados dois braços, uma cabeça e duas pernas, e que estamos em modo de auto-destruição acelerada se não percebermos que falta amar, respeitar e entender o outro, bebendo das suas diferenças para casar as nossas igualdades.


todos juntos caçámos animais saindo de cavernas. só nos falta fazer o mesmo para caçar um futuro melhor.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

À terceira é de vez!!!

Como tenho muita lata... este post é na linha de dois recentes... (um deles mesmo recentíssimo, o meu último) e trata da adaptação, não de séries (porque somos muito oranginais por estas bandas e isso depois na verdade tornar-se-ia repetitivo... quer dizer... até parece que assim não...), mas sim de filmes estrangeiros, para português. São novidades muito secretas e portanto só espero que tenham bastante cuidado na divulgação das mesmas (ao dizer isto espero que as publicitem, bem como a vinda aqui ao meu "little corner", numa jogada minha à laia d'"o fruto proibido é o mais desejado"). - Tó Pegane : história de um filho de uma ex-emigrante "na França" (daí a sempre típica mescla do nome António com o Pegane do francês com quem a senhora se casou). O rapaz entra para a Força Aérea, e depois há para lá umas intrigas. Ah! Na cena mais espectacular do filme, Tó Pegan faz um cozido à portuguesa, utilizando para aquecimento dos ingredientes a barriga

na moda

Está na moda escrever sobre o amor. O truque é pintar o dito de lugares comuns e adornar o produto final com duas ou três asneiras das pesadas para emanar pseudo-rebeldia. O conjunto de palavras é tão bonito e tem uma força tão positiva que o que está mesmo a pedir é para ser posto num rectângulo, acompanhado de uma imagem do pôr-do-sol/paisagem verdejante/gatinhos/silhueta de um ou dois corpos (riscar o que não interessa) e feito, está pronto a sair do forno para esse sufrágio universal que são as redes sociais. Está na moda gostar dessa visão do amor. Que tenta copiar alguns traços dos mestres mas que os copia mal e porcamente, borra a tinta toda, mas encontra destinatários com a visão tão baça que nem dão por isso. Dantes havia o condão de ficar preso às letras do Shakespeare, do James, do Cummings e de tantos outros. Todos eles vieram por aí fora, ainda há bem pouco tempo dava para jogar à macaca com o Cortázar, mas está tudo a trocar a macaca por meia dúzia de macacos, que ap

Reset

00:00 Os números piscavam a vermelho no fundo escuro. O escuro era da noite por fora, por dentro a culpa não era da noite. Ou então era de noite também por dentro. Dentro da cabeça uma pulsação contínua, um incessante martelar, uma inequívoca prova de vida e um considerável incentivo à morte. O dia rodava dentro da caixa craniana a uma velocidade superior àquela com que camisolas, calças e roupa interior dançam dentro da máquina de lavar roupa. As ideias misturavam-se de tal modo que apenas se conseguia lembrar da receita de um bolo. As preocupações de ontem a fazer de farinha, o que de novo aconteceu nesse dia mascarado de fermento, todos os planos para amanhã e depois com cara de ovos acabados de deslizar casca fora. E a vida, essa batedeira eléctrica de último modelo, a tratar de misturar tudo com a pressa de quem tem fome e gulodice. Sorriu no escuro e sentiu felicidade por sentir os músculos da face a relaxar. Uma das melhores coisas que o sorriso tem é a capacidade de pôr as