Avançar para o conteúdo principal

ódio à primeira vista

a história do amor à primeira vista dá imenso jeito a argumentistas, escritores ou outros criativos, mas em geral é quase tão verdadeira como a teoria de que tudo se consegue se se acreditar com muita força que lá se vai chegar.

a atracção à primeira vista sim. essa existe. e é capaz de ser das poucas forças que ultrapassam a da gravidade, mas não me vou alongar sobre o assunto ou ainda sou humilhado por gente que perceba verdadeiramente do segundo assunto.

mas o amor constrói-se. o amor compra-se e vende-se, não que estejam em causa trocas monetárias. embora às vezes, quantas vezes, ó se.

e não falo do amor só no seu conceito tradicional. falo também do amor pelas coisas. do amor pelas pessoas. da admiração. há o click inicial mas depois há horas e horas de enamoramento com a obra da admiração, com as palavras, com os frames, com os takes, com as pinceladas, com os olhos, com as pestanas, com os contornos da cintura. tudo demora, tudo é um processo, tudo cresce, exponencialmente, linearmente, abusando ou não de advérbios de modo, mas passo a passo.

já o ódio está para o amor como a queda livre lá do alto está para a subida da montanha. é súbito. é quase imperdoável. é tão mais voraz que o amor. é a peça de cristal que demorou semanas a ser moldada e é destruída com um súbito movimento que usa a força de apenas um ténue e frágil membro superior.

o universo provavelmente explica. pode ser que quando realmente conseguirmos olhar para dentro dos buracos negros, como quem espreita para dentro das janelas no reptilário do zôo, consigamos perceber um bocadinho melhor onde as nossas emoções são paralelas ao comportamento da própria matéria. porque acredito que no final isto está tudo relacionado. acredito mais nisso que no amor à primeira vista. e até um pouco mais do que no ódio à primeira vista.

Comentários

Mariana Neves disse…
Ainda que o ódio ainda não me tenha batido à porta, se algum dia bater, serei que esta descrição será exacta. E quanto ao amor? Não poderias estar mais certo (mas que percebo eu, não é?)
Diana Machado disse…
concordo, concordo imenso com o que escreves. em relação ao ódio, acho que felizmente não sei o que é isso à primeira vista, nem mesmo depois, não sei o que é ódio

Mensagens populares deste blogue

À terceira é de vez!!!

Como tenho muita lata... este post é na linha de dois recentes... (um deles mesmo recentíssimo, o meu último) e trata da adaptação, não de séries (porque somos muito oranginais por estas bandas e isso depois na verdade tornar-se-ia repetitivo... quer dizer... até parece que assim não...), mas sim de filmes estrangeiros, para português. São novidades muito secretas e portanto só espero que tenham bastante cuidado na divulgação das mesmas (ao dizer isto espero que as publicitem, bem como a vinda aqui ao meu "little corner", numa jogada minha à laia d'"o fruto proibido é o mais desejado"). - Tó Pegane : história de um filho de uma ex-emigrante "na França" (daí a sempre típica mescla do nome António com o Pegane do francês com quem a senhora se casou). O rapaz entra para a Força Aérea, e depois há para lá umas intrigas. Ah! Na cena mais espectacular do filme, Tó Pegan faz um cozido à portuguesa, utilizando para aquecimento dos ingredientes a barriga...

pedras

acho muito simpático da parte do fernando guardar todas as pedras do caminho para um dia construir um castelo, mas aqueles de nós que as têm nos rins apreciavam outro tipo de eficácia diferente de apenas contemplá-las durante o passeio diário para abater barriga. com tanto heterónimo ao barulho, pasmo-me que o fernando, pessoa de bem, não tenha dado vida a um ente que se tornasse urologista e arranjasse maneira de ajudar a prevenir várias noites em posição fetal a namorar com o chão frio da casa de banho. diz o povo que as cólicas renais são piores que as dores de parto, mas o povo não pensa no facto de quase metade da população não poder atestar essa comparação. é provável que seja o povo feminino, e esse sim pode saber das duas, como sabe de tudo o resto, sempre em demasia, que o conhecimento verteu todo para o segundo cromossoma x. enquanto um brufen beija um ben-u-ron e abraça outro, vou continuar aqui no meu canto, meio revoltado com o fernando, enquanto pesquiso qual o valor da p...

na moda

Está na moda escrever sobre o amor. O truque é pintar o dito de lugares comuns e adornar o produto final com duas ou três asneiras das pesadas para emanar pseudo-rebeldia. O conjunto de palavras é tão bonito e tem uma força tão positiva que o que está mesmo a pedir é para ser posto num rectângulo, acompanhado de uma imagem do pôr-do-sol/paisagem verdejante/gatinhos/silhueta de um ou dois corpos (riscar o que não interessa) e feito, está pronto a sair do forno para esse sufrágio universal que são as redes sociais. Está na moda gostar dessa visão do amor. Que tenta copiar alguns traços dos mestres mas que os copia mal e porcamente, borra a tinta toda, mas encontra destinatários com a visão tão baça que nem dão por isso. Dantes havia o condão de ficar preso às letras do Shakespeare, do James, do Cummings e de tantos outros. Todos eles vieram por aí fora, ainda há bem pouco tempo dava para jogar à macaca com o Cortázar, mas está tudo a trocar a macaca por meia dúzia de macacos, que ap...