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Por ruelas e calçadas (Parte 3)



Muita coisa é passível de influenciar a personalidade de cada um. Um acontecimento, uma frase, uma notícia, um gesto de alguém... tudo coisas que podem marcar indelevelmente a maneira de ser e pensar de cada indivíduo.

Golias era apenas um ser humano, como outro qualquer. Mas naquele momento sentia-se poderoso. Do interior do seu capuz, os neurónios de Golias felicitavam o seu dono por ter sido capaz de, finalmente, levar a cabo o plano de tantos anos.

A vítima? Nem sabia quem era... uma mulher, bonita por sinal e bem vestida. Por curiosidade Golias abriu a carteira e encontrou uma panóplia de cartões de crédito, 500 Euros em dinheiro e quase 400 Dólares em "cash". Deixou ficar isso tudo a apodrecer com o corpo, a marinar na poça de sangue que envolvia a sua vítima.

O que o tinha feito chegar ali? Golias tinha agora 25 anos. A sua infância fora um martírio. Espancado regularmente pelo padrasto e esquecido pela mãe, Golias passava os dias a subir e descer o elevador da Bica, sempre a tentar esquecer a vida que levava. Mal aceite pelos seus pares, fechava-se no seu quarto onde tinha a sua relíquia: uma televisão e o seu leitor de vídeo.

Tornou-se desde os 12 anos um cinéfilo compulsivo. Aos 15 anos teve o seu momento. Viu o "Psycho" pela primeira vez. A primeira de muitas. Muitas mesmo. Muitas do género... todos os dias. E pouco a pouco a sua personalidade foi-se perdendo. Ao fim de 10 anos Norman Bates triunfava sobre Golias Sousa.

Naquela noite, uma noite como tantas outras, com um céu estrelado e luzidio, Golias achou ser o momento certo para a sua transformação. Saíu à rua e ao fim de cinco minutos saciou a sua sede de vingança do mundo...

O que se passou a seguir, perguntam vocês? Isso serão outras histórias, porque entretanto... Golias continua por aí...

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