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a liberdade da prisão

acendeste o cigarro e por trás de ti tocavam os stones, a dizer que mem sempre consegues tudo aquilo que queres.

mal sabiam eles, pensei eu, que nunca se perderam nos teus cabelos, que nunca moraram nos teus olhos e que nunca navegaram no teu pescoço.

comparei a tua luz com a que vinha do tecto. comparei o calor do teu peito com o calor da ponta do cigarro. ficavas sempre a ganhar. eras rainha de copas num baralho só de dois de paus e eu rendia-me à minha simplicidade de ser sempre joker neste mundo pouco preparado para trazer os jokers a jogo.

quando sorrias, o espaço à volta parecia ter sido vítima de uma bomba de neutrões, e sabes como eu sempre me perdi irremediavelmente por sorrisos devastadores. sorrisos daqueles que te fazem viajar em segundos da porta de casa à porta do comboio de um país distante. que trazem canela, açafrão, gengibre, não em pó, mas sim disfarçados nas pequenas covas que o canto dos teus lábios definia.

contemplava-te como um quadro, pintava-te como se fosse o teu dalí e ficávamos a brincar ao surrealismo sem ligar às horas e regras do mundo real. tenho ideia que os relógios pararam, com os ponteiros no momento em que os braços estão levantados para cima. expliquei-te que na publicidade os relógios vêm sempre com os ponteiros nas duas e dez para ligar sensações positivas ao produto em causa. sorriste uma vez mais, como sorrias sempre que do nada me saíam estas coisas que não interessam nem ao menino jesus nem a muitos outros meninos não-jesus.

o que me importa é que te fez sorrir. e assim continuou o ponteiro, parado, imóvel, alheio a nós e nós alheios a tudo.


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