Avançar para o conteúdo principal

A chico-espertice e o desflorar do cofre



Os concursos de televisão sofreram uma notável evolução nas últimas décadas. Não sendo eu um testemunho vivo dos anos 60 ou 70, apenas posso falar do que me lembro dos finais dos 80 e 90's. Por então, os concursos não eram mais do que uma mina de ouro para uma dúzia de "money-makers", também conhecidos por enciclopédias com pernas, que até suavam de tanta sofreguidão para derrotar as pobres presas que com eles figuravam em concursos como a "Roda da Sorte" ou a "Casa Cheia".

Hoje em dia a evolução verificou-se para dois níveis divergentes. Concursos como o "Preço Certo" ou semelhantes, que servem para trazer ao estrelato o português médio, geralmente médio-baixo, ao mesmo tempo que lhe oferecem uma batedeira de ovos, um frigorífico, um carro sul-coreano ou aquela magnífica viagem a Varadero com que a Tia Juselinda de Arraiais de Baixo sempre sonhou.

Há depois o outro segmento, estreado com o "Quem quer ser Milionário" e os que se seguiram, em que se procura explorar um segmento um pouco mais informado da população, ao invés dos gladiadores da sorte pura e dura. No mais recente episódio deste capítulo, o "Cofre" enche as noites da TV estatal, e é até bem interessante e mais difícil que alguns dos anteriores, dada a ausência do sistema de escolha múltipla. A resposta terá assim de ser dada sempre por recordação e não por reconhecimento. Mas no meio de um bom formato, aparecem os negociadores, que não tiveram a sorte de ser concorrentes e que tentam ganhar o máximo de patacos, respondendo ao que o concorrente não sabe. Mas, se no caso do concorrente não condeno que diga respostas disparatadas porque pode ser que acerte nalguma, já condeno que os negociadores se prestem a roubar tempo ao concorrente para depois lhes pseudo vender uma resposta ridícula.

Assim, alguém avise os negociadores que uma resposta ao lado está bem, ninguém sabe tudo nem chega perto disso. Agora dizerem ao concorrente que o Rio Colorado faz fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá, que Lourenço Marques era o antigo nome de Lisboa ou que a Sibéria é uma região do Chile... bem, por 40 ou 50 Euros, mais vale ser ligeiramente ponderado e dizer que não se sabe, right?

Comentários

Mensagens populares deste blogue

À terceira é de vez!!!

Como tenho muita lata... este post é na linha de dois recentes... (um deles mesmo recentíssimo, o meu último) e trata da adaptação, não de séries (porque somos muito oranginais por estas bandas e isso depois na verdade tornar-se-ia repetitivo... quer dizer... até parece que assim não...), mas sim de filmes estrangeiros, para português. São novidades muito secretas e portanto só espero que tenham bastante cuidado na divulgação das mesmas (ao dizer isto espero que as publicitem, bem como a vinda aqui ao meu "little corner", numa jogada minha à laia d'"o fruto proibido é o mais desejado"). - Tó Pegane : história de um filho de uma ex-emigrante "na França" (daí a sempre típica mescla do nome António com o Pegane do francês com quem a senhora se casou). O rapaz entra para a Força Aérea, e depois há para lá umas intrigas. Ah! Na cena mais espectacular do filme, Tó Pegan faz um cozido à portuguesa, utilizando para aquecimento dos ingredientes a barriga

na moda

Está na moda escrever sobre o amor. O truque é pintar o dito de lugares comuns e adornar o produto final com duas ou três asneiras das pesadas para emanar pseudo-rebeldia. O conjunto de palavras é tão bonito e tem uma força tão positiva que o que está mesmo a pedir é para ser posto num rectângulo, acompanhado de uma imagem do pôr-do-sol/paisagem verdejante/gatinhos/silhueta de um ou dois corpos (riscar o que não interessa) e feito, está pronto a sair do forno para esse sufrágio universal que são as redes sociais. Está na moda gostar dessa visão do amor. Que tenta copiar alguns traços dos mestres mas que os copia mal e porcamente, borra a tinta toda, mas encontra destinatários com a visão tão baça que nem dão por isso. Dantes havia o condão de ficar preso às letras do Shakespeare, do James, do Cummings e de tantos outros. Todos eles vieram por aí fora, ainda há bem pouco tempo dava para jogar à macaca com o Cortázar, mas está tudo a trocar a macaca por meia dúzia de macacos, que ap

Reset

00:00 Os números piscavam a vermelho no fundo escuro. O escuro era da noite por fora, por dentro a culpa não era da noite. Ou então era de noite também por dentro. Dentro da cabeça uma pulsação contínua, um incessante martelar, uma inequívoca prova de vida e um considerável incentivo à morte. O dia rodava dentro da caixa craniana a uma velocidade superior àquela com que camisolas, calças e roupa interior dançam dentro da máquina de lavar roupa. As ideias misturavam-se de tal modo que apenas se conseguia lembrar da receita de um bolo. As preocupações de ontem a fazer de farinha, o que de novo aconteceu nesse dia mascarado de fermento, todos os planos para amanhã e depois com cara de ovos acabados de deslizar casca fora. E a vida, essa batedeira eléctrica de último modelo, a tratar de misturar tudo com a pressa de quem tem fome e gulodice. Sorriu no escuro e sentiu felicidade por sentir os músculos da face a relaxar. Uma das melhores coisas que o sorriso tem é a capacidade de pôr as