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born slippy

mergulhou em direcção ao desconhecido como quem prefere conhecer a temer o desconhecido. sentiu o corpo tremer por todos os lados, uma espécie de vibração ainda maior do que a que o corpo sente durante um sismo de grau 'muitos' na escala de 'bem pior que richter e mercalli' juntos. lembrou-se que richter lhe fazia lembrar ritter, nomeadamente ritter sport, o de maçapão, ou outro semelhante, do melhor que pode aparecer sob a forma de chocolate servido ao quadrado.

quando a vibração ganhou contornos de normalidade deixou-se finalmente levar pelas cores. só enquanto se mergulha no desconhecido se tem por instantes a percepção de que há mais cores do que oitenta e três arco-íris juntos e de que a vida é pintada como se de um caos de guaches se tratasse. conseguiu distinguir as cores pintadas a lápis, a tinta permanente, a tinta temporária e de todos os outros temperos.

sentiu-se a ver estrelas e teve a certeza de que falavam com ele. que lhe contavam tudo o que havia para saber, desde o início do mundo e da vida até ao fim dos palmieres cobertos numa qualquer pastelaria cinco minutos antes da sua hora de fecho. as estrelas nunca se inibem a responder a toda e qualquer pergunta, por isso mesmo quando questionadas sobre o sentido da vida, sorriram, perguntaram se ele tinha tempo, emitiram três ou quatro cadências universo fora e ficaram ali a explicar-lhe os yins e os yangs durante cerca de quatrocentas e oitenta e três horas, mais coisa menos coisa.

no fim sentiu-se uma espécie de sal mergulhado na água e saiu do desconhecido como quem acaba de acordar despenteado dentro da enciclopédia que é a vida.

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