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multas a mais em sítios a menos

só multam o que não deve ser multado. só taxam o que não deve ser taxado. não estimulam sequer o que deve ser estimulado.

é um mundo cheio de conceitos trocados. quem terá sido a primeira alma iluminada que achou que a forma de o mundo ser um sítio melhor era rebocar o carro a alguém porque não pôs uma ou duas moedas dentro de uma máquina sem vida? ou de onde terá saído a proposta peregrina para cobrar um extra sobre o preço real das coisas? se o leite custa tanto e levá-lo ao sítio X custa outro tanto, porque é que alguém que não produz leite, não transporta o leite e não entrega o leite ganha direito a viver à custa de todo esse circuito?

depois, claro está, não há gente nem recursos suficientes para controlar o que realmente importa. não vejo quem despedaça corações ser multado como se em cima de uma passadeira tivesse estacionado. não registo funcionários da emel do sentimento com ar carrancudo a rebocar oportunidades a quem não se sabe comportar. e não se paga imposto sobre o desinteresse, sobre personalidades amorfas ou sobre rios poluídos. muito menos dá vinte anos de cadeia ter mau gosto musical.

o mundo dos sonhos deve ter sido inventado com esse propósito. lá cada um define as suas taxas, define quem infringe, define quem é castigado. somos réus, juízes e advogados do nosso próprio circo de feras. quem o criou teve esse bom gosto. podia ter adicionado o bom gosto de o fazer durar mais tempo que o mundo real. pelo menos em certos dias.

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