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entre linhas de pautas moram letras

a música tem um papel constante na minha vida. os sons mais variados conseguem a proeza de me fazer viajar sem sair do mesmo sítio. de sonhar acordado. tem mais força para os meus sentidos carregar no botão 'play' de certas músicas do que pôr uns óculos estranhos e fingir que estou a ver o mundo a três dimensões. (o que se passa com isto das três dimensões, já agora? que raio de embuste à inteligência vem a ser este? eu quando vou ver um filme quero ver um filme. descansado. em sossego. de três dimensões já é o resto do meu mundo e se eu quiser três ou mais dimensões vou para o meio da floresta ou da praia e não preciso de usar óculos adequados. tirando os de sol em certos dias.)

consigo traçar a rota da música na minha vida até aos momentos mais primitivos da minha memória. consigo associar músicas a locais, a pessoas, a fases da vida. já me apercebi que funcionam certamente como um índice do livro que é a nossa vida. quando começam a tocar, envergonhadamente, do nada, transportam-nos no tempo, trazem de volta os cheiros, os sorrisos, as lágrimas, o vento a bater na cara, o reflexo do sol no mostrador do relógio e a forma como o usávamos para brincar com o mundo.

além de roteiro, a música é um amigo. dos melhores. leio ao som da música. estudo ao som da música. escrevo ao som da música. escolho diferentes músicas consoante o tipo de texto que quero escrever. reinvento a banda sonora das letras a cada momento. assim sinto a escrita como um filme. e os filmes têm todos música. porque as notas sabem navegar, à deriva, de mãos dadas, com as imagens, como mais ninguém o consegue fazer.

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