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os cabos do mundo .

a predilecção do ser humano por cabos é algo de notável.

há quinhentos anos atrás o seu objectivo era dobrá-los no meio de tempestades, entrando para dentro de meia dúzia de tábuas de madeira marteladas à pressa com um quadrado de pano a dar a dar ao sabor do vento. os cabos eram de tal forma temidos que até lhes inventavam figuras humanas monstras e lhes davam nomes de miradouros de santa catarina (deixem-me acreditar que a ordem dos factos é esta, sim?).

num regime mais contemporâneo os cabos mudaram de sítio. largaram a pedra em que a água bate e tornaram-se em fios de cobre, ou de outra coisa qualquer, envoltos em borracha e com uma maníaca tendência para se enrolar. sempre achei aliás que os cabos só podem ter sido feitos à imagem dos bichos de conta, dada tamanha semelhança no que toca à 'enroladela'. estes cabos estão por todo o lado. criam uma cidade à parte, só sua, acima da outra e abaixo da outra. até ao fundo do oceano eles foram parar, para transportar megabytes de informação enquanto lancham com uma raia e gracejam com um tamboril.

engraçado, talvez, é o facto de os cabos serem sempre sinónimo de comunicação. já o eram na sua infância enquanto acidentes geográficos e continuaram quando cresceram e se modificaram para outros usos. cá para mim isto foi o fruto de anos e anos a ver como as aranhas usam os cabos (de rede) para construir o seu mundo. é. ao fim e ao cabo foi mesmo isso.

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