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na vida como nas ementas americanas

as ementas nesta terra que me acolheu têm um grave problema de complexidade. por mais agradável que seja a multiplicidade de oferta, almoçar ou jantar fora num restaurante americano é um desafio com laivos de hercúleo. escolher um entre milhares de pratos e quando acharem que a tarefa chegou ao fim ainda vem a altura de vos perguntarem como querem a carne, que molho querem, todos os acompanhamentos à disposição, e por aí fora, o que me faz sempre acreditar que para se ser empregado de mesa nos estados unidos é preciso um curso de decoranço. ou então são só actores sem sucesso em hollywood que vêm parar a esta profissão em segunda instância. há dias em que só nos apetece limitar as dúvidas a dois ou três pratos. e mesmo isso às vezes é demais.

a vida moderna sofre do mesmo trauma. vestidos do maravilhoso livre arbítrio que o tempo de agora nos trouxe, temos que, quase do berço, decidir tudo e um par de botas. o que vamos ser, o que queremos fazer, com queremos estar, o que isto, como aquilo. claro que na infância gozamos da inocência da liberdade. achamos as nossas escolhas mágicas e as nossas decisões inconsequentes. ao crescer as coisas mudam de tom. as nossas marcas deixam de ser feitas em areia e passam a ser como pegadas em cimento, muito mais difíceis de desfazer, muito mais delicadas de disfarçar.

não estou com isto a ser apologista de uma crítica a todas as oportunidades que o mundo moderno nos traz. mas há dias em que chego a pensar que um homem da idade média, condenado ao trabalho no campo toda a vida, a administrar propriedades toda a vida, a uma reclusão num mosteiro toda a vida, ou outras, sendo certo que não tinha o potencial de felicidade que nós temos, tinha na limitação das suas escolhas uma espécie de airbag contra o potencial de infelicidade que nos chega em igual (ou maior) dose.

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